Spensy Pimentel
Enviado especial
Dourados (MS) – Agentes da Pastoral da Criança vão reforçar o trabalho da Fundação Nacional de Saúde no combate à desnutrição na área indígena de Dourados (220 km a sudoeste de Campo Grande), a mais populosa das reservas guarani-kaiowá do sul de Mato Grosso do Sul. "Nós fizemos o convite para a Pastoral. Estamos interessados na experiência deles com a multimistura e o treinamento dos agentes comunitários", explica o coordenador da Funasa em MS, Gaspar Hickman.
Ele conta que, entre 2001 e 2002, a Pastoral da Criança já auxiliava na produção da multimistura em uma máquina doada por uma empresa local à comunidade indígena de Dourados, mas, posteriormente, o trabalho que será retomado agora foi interrompido por falta de condições técnicas. A multimistura é um composto natural que fornece à criança altas doses de vitaminas
e minerais, ajudando no combate à desnutrição.
Neste fim de semana, formadores da Pastoral já iniciaram o treinamento de agentes para trabalhar na área indígena. "Afora as dificuldades pelo idioma, acredito que o trabalho será muito semelhante ao que já fazemos nas periferias pobres das cidades, basicamente na atenção às gestantes e crianças até seis anos de idade", afirma Maria Madalena Simão, agente da Pastoral há quinze anos que está ajudando no treinamento em Dourados. Ela diz que a Pastoral já
atua há alguns anos em aldeias de outras regiões, como Caarapó e Amambai.
Maria Madalena fala dos principais pontos em que geralmente o agente da pastoral ajuda as famílias: "O mais comum é a falta de higiene, então, com bastante tato e depois de muita intimidade com a família, o agente aconselha, por exemplo, a trocar sempre a roupa da criança, tomar cuidado ao lavar as roupas, não usar açúcar demais nos alimentos, não desperdiçar
alimentos". Ela diz que, às vezes, o agente faz a "ponte" entre a família e os órgãos públicos de
assistência social. "É raro, mas tem pessoa que tem vergonha de pedir", explica.
A guarani Marci de Souza, 48, moradora da área Jaguapiru, em Dourados, é uma das voluntárias que está recebendo treinamento da Pastoral. Ela já auxilia voluntariamente no cadastramento para os programas de segurança alimentar locais. "Às vezes, o marido vai trabalhar na usina de cana e deixa a mulher e os filhos sem recursos, mas muitas vezes não é só falta de alimento, tem casas em que falta amor e atenção dos pais. Tem casa que, você chega, a mãe e o pai estão
bêbados, as crianças ficam sem comida", conta ela.