Gabriela Guerreiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Jorge Félix, quer explicar no Senado Federal as denúncias publicadas por uma revista semanal de que a Agência Brasileira de Informações (Abin) teria em seus arquivos documentos que comprovam a ligação das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) com militantes do Partido dos Trabalhadores (PT). A informação foi repassada pelo líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).
O senador petista disse que o general também lhe garantiu hoje os documentos mencionados na reportagem não foram produzidos pela Abin. "O ministro nos informou que os documentos não pertencem à Abin. O partido não patrocinou nada, encontro nenhum. Não iríamos no associar a uma organização que promove seqüestros. A matéria contém informações precárias que não condizem com a história e o comportamento do partido", enfatizou Mercadante.
O ministro Jorge Felix entregou ao líder do governo pedido para que possa esclarecer as denúncias na Comissão Mista de Controle de Atividades de Inteligência do Congresso Nacional – uma vez que a Abin é subordinada ao GSI. O senador Demóstenes Torres (PFL-GO), que esta semana ocupa interinamente a liderança do PFL no Senado, apresentou requerimento à Comissão solicitando explicações do general Jorge Félix e do diretor-geral da Abin, Mauro Marcelo de Lima e Silva, sobre as denúncias.
A Comissão é integrada pelos líderes da maioria e da minoria no Senado e na Câmara, e pelos presidentes das Comissões de Relações Exteriores das duas Casas Legislativas. O senador Cristovam Buarque (PT-DF), que é presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, preside da Comissão de Inteligência. Ele confirmou que vai convocar reunião para a próxima quarta-feira (16) para analisar o requerimento apresentado pelo senador Demóstenes Torres. Mas não adiantou se o ministro Jorge Félix será ouvido ainda esta semana.
Segundo a revista Veja, em abril de 2002 teria sido realizado churrasco nos arredores de Brasília com a participação de militantes petistas e representantes das Farc. Na ocasião, de acordo com a reportagem, um "embaixador" das Farc no Brasil teria anunciado a doação de US$ 5 milhões para a campanha eleitoral de candidatos petistas – ato flagrado por um agente da Abin que compareceu disfarçado ao churrasco.
O líder Aloizio Mercadante afirmou que o ex-ministro do GSI Alberto Cardoso – que estava no comando do órgão em 2002 - já conversou por telefone com o ministro Jorge Félix e negou que a Abin tenha promovido investigações no suposto churrasco. "O general Cardoso disse que não tem conhecimento de nenhuma investigação. Não houve qualquer procedimento investigatório nesse episódio", ressaltou Mercadante.
Na avaliação do senador Demóstenes Torres, é preciso esclarecer se realmente existiu qualquer doação de recursos das Farc para as campanhas eleitorais do PT. "O que quer o PFL, e o que quer o próprio PT, é que a Abin diga que isso não existe, que foram documentos forjados. O Brasil não pode aceitar que esse tipo de financiamento aconteça", enfatizou.
Já o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) disse que existem indícios que apontam a contribuição das Farc ao PT. "O que responde o partido é muito pouco para quem está no governo e não pode tornar-se cúmplice de um fato como esse. Se as irregularidades ficarem comprovadas, vamos ter de um lado a existência de caixa dois. E do outro, a pior origem para esses recursos, que são o narcotráfico, seqüestros, roubos", criticou.
O líder Aloizio Mercadante criticou a postura adotada pelo PSDB, e disse que o senador Álvaro Dias se precipitou ao confirmar as denúncias. "O PT não tem e jamais teve relação financeira com as Farc, tampouco apóia o movimento. A política do PT é marcada pelo respeito aos povos", resumiu Mercadante.