Pequenos agricultores e governo realizam primeira reunião sobre seca no Sul

09/03/2005 - 19h08

Christiane Peres
Da Agência Brasil

Brasília – Integrantes do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), que integra a Via Campesina, e representantes de 11 ministérios fizeram nesta quarta-feira a primeira reunião para discutir medidas emergenciais para amenizar o impacto da estiagem que atinge a região Sul do país, principalmente o estado do Rio Grande do Sul.

Segundo o diretor do MPA, Romário Rossetto, o governo apresentou um diagnóstico da seca na região. "O governo se mostrou muito preocupado e disposto a analisar as nossas reivindicações", disse após encontro na Casa Civil. Este diálogo inicial deve continuar na próxima semana, quando serão estabelecidas medidas concretas para o problema.

O coordenador da Via Campesina, Antônio Caldart, afirmou que, em 52 anos, nunca viu um período de estiagem tão prolongado. Para tentar obter uma resposta mais rápida dos governos federal e estadual, mais de 15 mil agricultores que fazem parte dos movimentos sociais que compõem a Via Campesina, iniciaram manifestações em nove municípios do Rio Grande do Sul – Cruz Alta, Erexim, Livramento, Palmeira das Missões, Pelotas, Porto Alegre, Sarandi, Santa Cruz do Sul e Santo Augusto.

Já são quase cinco meses sem chuva na região e dos 497 municípios do estado, 412 decretaram situação de emergência. "Isso está levando a pequena propriedade à falência. A gente no interior não acreditava em cesta básica, mas se continuar desse jeito e não houver cesta básica o pessoal não sobrevive". afirma.

Os agricultores elaboraram uma série de reivindicações para discutir com o governo. Entre elas estão: a criação de políticas que garantam condições de infra-estrutura para manter as atividades de produção de alimentos nas comunidades, liberação imediata de crédito para subsistência familiar e agilização na liberação do Proagro Mais - linha de crédito criada para atender os pequenos produtores vinculados ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).

O coordenador da Via Campesina considera o Proagro Mais muito "burocrático" e diz que ele não resolve "de imediato" o problema vivido pelos agricultores. "Os peritos fazem pesquisas individuais nas propriedades. O que a gente precisa agora e pede para o governo federal é que seja feito um laudo único do município para agilizar a concessão do crédito".

"Até agora, a situação estava um pouco tranqüila, pois a gente vinha se mantendo da safra anterior, mas daqui para frente a coisa só vai piorar porque todos os nossos recursos estão acabando", conta.

O Rio Grande do Sul é responsável por mais de 80% da produção agrícola do país. Produtores de milho, carne, leite e soja são os mais prejudicados com a estiagem. De acordo com Caldart, só restam três alternativas para os agricultores: "vender a vaca e o resto dos grãos para pagar o financiamento e deixar os filhos com fome; vender as terras e ir para a cidade; ou não pagar o banco. Por isso, queremos uma definição rápida do governo estadual ou federal", lembra.