Keite Camacho
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O presidente boliviano Carlos Mesa saiu fortalecido após ver descartado o seu pedido de renúncia ao cargo pelos 157 membros do Congresso Nacional da Bolívia, na noite dessa terça-feira (8/03). O pedido de renúncia que foi encaminhado ao Parlamento na segunda-feira (7/03) não era irrevogável, deixando claras as intenções do presidente na busca por maior poder para resolver a crise. Ainda assim, houve apenas um adiamento da situação de crise vivida pelo país, diz o coordenador do Laboratório de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Emir Sader.
"Momentaneamente (Carlos Mesa) sai fortalecido, mas como isso não resolve nenhum dos problemas de fundo, é um adiamento para o novo ciclo de crises. Porque as questões continuam sendo colocadas fortemente. É uma espécie de poder dual entre o poder do Estado e a capacidade de mobilização dos setores populares, principalmente indígenas, camponeses. Agora, é uma solução provisória, precária, não era um pedido de renúncia. Na verdade era um pedido de maior poder para tentar resolver a crise", destacou Sader.
Ele explica que o resultado já era esperado, porque Mesa tem o apoio da maioria do Congresso. Um acordo assinado nessa terça-feira (8/03) pelo chefe dos poderes executivo e legislativo busca dar respaldo político ao presidente para concluir o mandato e manter a estabilidade democrática. O pacto, no entanto, não teve o apoio dos partidos Movimiento al Socialismo (MAS), do qual faz parte o principal opositor do governo, Evo Morales, nem do Movimiento Indígena Pachacuti (MIP) e do Movimiento de Izquierda Revolucionária (MIR), que somam 59 dos 130 deputados e 13 dos 27 senadores.
De acordo com Emir, os movimentos sociais querem uma lei que cobre 50% de imposto sobre as exportações de hidrocarbonetos para fazer política social, ao contrário do governo, que quer taxar a exportação em 18%. "A Bolívia é um país rico em matérias-primas, mas nunca este dinheiro foi aplicado em políticas sociais. Então a reivindicação deles é basicamente essa. O governo quer cobrar 18% apenas da exportação, achando que cobrar mais do que isso seria inviabilizar a possibilidade de investimentos externos na área do gás", destacou.
Para Emir, a crise boliviana deve ser discutida no âmbito continental. "Interesses nacionais podem nos levar a nos dividir como tem acontecido no Mercosul. Uma política continental é que pode nos integrar, fortalecer, aproximar", concluiu.