Congresso boliviano nega renúncia do presidente Carlos Mesa

09/03/2005 - 10h49

Alessandra Bastos
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O Congresso da Bolívia negou por unanimidade, nesta terça-feira, o pedido de renúncia apresentado pelo presidente Carlos Mesa no domingo passado. Na noite de ontem, logo que soube da decisão, Mesa anunciou um acordo com o Legislativo que incluiria aprovar uma Lei dos Hidrocarbonetos que respeite a soberania da Bolívia, mas que também dê "segurança jurídica àqueles que apostam no país", segundo informou a imprensa internacional.

Os conflitos entre partidos políticos e movimentos sociais bolivianos vêm sendo causados por quatro fatores, explica Gonzalo Chaves, analista político e econômico da Universidade Católica Boliviana. A pressão política e social foi o motivo que levou Carlos Mesa a pedir renúncia.

A primeira das questões apontadas é a convocação de eleições para governadores (chamados lá de prefeitos), que hoje são nomeados diretamente pelo presidente da República. A segunda seria um plebiscito para a autonomia de Santa Cruz, uma das regiões de economia mais forte da Bolívia e que quer a independência. A terceira é a criação de uma Assembléia Constituinte para elaborar uma nova Constituição Federal que reforme o modelo administrativo e econômico no país. E a quarta, considerada a "gota d'água" para o pedido de saída de Mesa, é a Lei de Hidrocarbonetos.

Grande parte do povo boliviano e dos movimentos sociais pede a saída das empresas multinacionais da Bolívia e é contra as privatizações das estatais, ocorridas entre 94 e 96. Sob a liderança do deputado Evo Morales, do partido Movimento al Socialismo (MAS), eles pedem maior interferência do Estado e a taxação imediata em 50% do faturamento das empresas estrangeiras. Segundo Chaves, a proposta do governo é que essa taxação seja gradual e chegue aos 50% em aproximadamente dez anos. A Câmara dos Deputados já aprovou a proposta do governo, que deveria seguir para o Senado quando explodiu a crise política boliviana. O partido de Evo Morales negou a renúncia de Mesa, mas não assinou o acordo proposto pelo presidente.

A Bolívia tem a maior reserva de gás natural da América do Sul, depois da Venezuela, e é o país mais pobre da região.

Colaborou André Deak