Pedro Malavolta
Da Agência Brasil
São Paulo – Nascido em 11 de julho de 1924, em Curitiba, Cesare Mansueto Giulio Lattes foi da primeira geração de professores de física das universidades brasileiras formado no Brasil. César Lattes, como ficou conhecido, foi da primeira turma de física da Faculdade de Filosofia e Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP) e se graduou em 1943. Depois de formado, foi trabalhar no exterior, conseguiu reconhecimento mundial ao comprovar experimentalmente a existência de partículas subatômicas. Em 1949 retornou ao Brasil, onde ajudou a criar o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, entidade da qual nunca se afastou. Dois anos mais tarde, participou da fundação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o CNPq. Aos 23 anos ficou conhecido mundialmente ao publicar um estudo, em parceria com Giuseppe Occhialini e o inglês Cecil Powell, em que comprovava a existência de partículas chamadas mésons pi. Essas partículas foram previstas em 1935 pelo físico teórico japonês Hideki Yukawa.
Mudando a quantidade de alguns elementos químicos na composição de chapas fotográficas e expondo essas placas à radiação das altitudes elevadas, Lattes conseguiu pela primeira vez evidência da existência dos mesons pi. A experiência, feita em 1947, foi realizada por ele mesmo nas montanhas de Chacaltaya, na Bolívia, nos Andes. Lattes morava na época na Inglaterra e aproveitou a viagem para América do Sul para se casar com Martha que era formada em matemática.
Um ano depois, em 1948, Lattes foi morar nos Estados Unidos e em Berkeley, na Califórnia. Lá, junto com Eugene Gardner, registrou novamente as partículas mésons pi. A diferença foi conseguir registrar sua existência em laboratório, com a ajuda de um acelerador de partículas.
De 1949 e 1962, Lattes foi professor da USP, de onde saiu para ajudar na criação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Nesta, lecionou até sua aposentadoria em 1986. Em 1969 fez outra descoberta, explicando como funcionavam as "bolas de fogo". O fenômeno era atribuído ao campo da paranormalidade e foi explicado por uma equipe de físicos brasileiros e japoneses, liderada por Lattes. As experiências foram também feitas nas mesmas montanhas de Chacaltaya na Bolívia.
Por suas descobertas de 1947, 1948 e 1969, Lattes chegou a ser indicado ao prêmio Nobel de Física, mas por vários motivos não o recebeu. Mas o físico recebeu outras homenagens. Cartola e Carlos Cachaça escreveram, em 1949, o samba-enredo Ciência e Arte, que falava da história das descobertas de Lattes. Com essa canção, a escola de samba Estação Primeira de Mangueira ganhou o campeonato daquele ano. Além disso, a plataforma onde são registradas os currículos dos pesquisadores brasileiros leva o nome do cientista.
Amigos contam que desde a morte de sua mulher Martha, no ano passado, Lattes andava abatido. Morreu na tarde de ontem e foi enterrado nesta quarta-feira, ao lado de sua esposa.