Brasília – Com um Produto Interno Bruto (PIB) da ordem de US$ 21 bilhões e uma renda per capta de US$ 2.400, a Bolívia tem atualmente 70% de sua população vivendo abaixo da linha da pobreza. No ranking do Índice de Desenvolvimento Humano da ONU, o país ocupa a 114ª posição. Uma das maiores dificuldades encontradas por Carlos Mesa ao assumir a presidência em 2003 foi administrar um déficit fiscal da ordem de 8,1% do PIB.
A Bolívia tem hoje uma população de aproximadamente nove milhões de habitantes, dos quais 80% são indígenas organizados no movimento Tupak-Katari, representado politicamente no Congresso Nacional pelo Movimiento al Socialismo (MAS) e pelo Movimiento Indígena Pachakuti (MIP). Os movimentos indígenas questionam as políticas neoliberais, o processo de negociação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), e a privatização da exploração dos recursos naturais do país, principalmente o gás.
O cultivo de coca também é uma questão que divide o governo e os movimentos indígenas. A coca é milenarmente utilizada pelos bolivianos que mascam suas folhas e bebem seu chá para amenizar os efeitos das altitudes dos Andes. Apesar de se colocarem a favor do combate ao narcotráfico, os plantadores de coca são questionados até pelos Estados Unidos, que se opõe às plantações no país.
Em sua carta de renúncia, Carlos Mesa afirma que estava empenhado em resolver três das principais reivindicações dos movimentos populares: dotar a Bolívia de uma nova Constituição, realizar um referendo popular sobre a "Lei de Hidrocarburos" (na tradução, Lei de Hidrocarbonetos), definindo as regras da exploração dos recursos naturais, e promover uma descentralização administrativa que desse maior autonomia aos nove departamentos (equivalente aos estados no Brasil).
"As posições de alguns dos mais importantes protagonistas da política boliviana e de algumas organizações sociais, regionais e sindicais, estão levando a Bolívia a um ponto de confrontação que põe em risco, em meu entender, nosso futuro e nossa viabilidade", escreveu Mesa em sua carta de renúncia.
Para Jaime Solares, dirigente da Central Operária Boliviana (COB), a renúncia do presidente é apenas uma "manobra política" para enfrentar o cerco que a oposição esta "impondo" ao seu regime. "Não passa de uma palhaçada, uma encenação e uma atitude covarde de alguém que se converteu em defensor da oligarquia e dos empresários que sequer pagam impostos", segundo declarou ao jornal Los Tiempos.
Abel Mamani, liderança indígena da Federação de Juntas Vicinais de La Paz, classificado por Carlos Mesa como um de seus opositores que "põem em risco" a viabilidade do país, eximiu-se de qualquer responsabilidade sobre a decisão da renúncia. Mamani é um dos principais lideres da luta contra a privatização do sistema de abastecimento "Águas del Illimani", que cobre as cidades de La Paz e de El Alto, sob administração da empresa francesa Suez Lyonnaise des Eaux. Em janeiro, ajudou a organizar uma paralização que resultou na quebra do contrato de concessão da multinacional.
Núcleo de Pesquisas da Radiobrás