Portadores de deficiência pedem aprovação de lei sobre uso de células-tronco embrionárias

28/02/2005 - 20h28

Christiane Peres
Da Agência Brasil

Brasília – Portadores de deficiência física promoveram manifestação hoje, na Câmara, para pedir a aprovação do projeto de Lei de Biossegurança, que dispõe sobre o uso de células-tronco embrionárias para pesquisas científicas, já foi aprovado no Senado, deve ser votado amanhã pelos deputados e pode beneficiar cerca de 25 milhões de deficientes.

Atrofias genéticas, distrofias musculares, mal de Parkinson e doenças neuromusculares são alguns males que poderiam ter cura com a aprovação do projeto. Com apenas três meses, Lucas Braga desenvolveu um tipo de atrofia genética letal – a atrofia espinhal tipo 1. Aos seis meses, perdeu a coordenação motora e hoje, com três anos respira por aparelhos.

Fátima Braga, mãe de Lucas, explica que, apesar da doença, a parte cognitiva da criança é normal: "Ele é muito inteligente. Já entende todo esse processo que acontece com ele, mas é muito triste lembrar que não existe tratamento. A única esperança para Lucas é a aprovação desse projeto. Com as pesquisas, a chance de cura está mais perto".

Assim como Lucas, existem outras crianças, adolescentes e adultos, à espera do início das pesquisas com células-tronco embrionárias. Felipe Coelho é um deles. Aos seis anos descobriu ter uma distrofia muscular – doença que enfraquece os músculos. Hoje, aos 20 anos e numa cadeira de rodas, lembra que a aprovação do projeto é a "esperança" para aqueles, que como ele, sofrem com essas doenças degenerativas. "É uma esperança. Mesmo que eu não me beneficie, que não dê tempo, mas é uma chance de recuperação para milhares de pessoas que sofrem com essas doenças."

As pesquisas científicas com células-tronco embrionárias são a única alternativa para os portadores de doenças genéticas incuráveis, como as neuromusculares, a diabetes e o mal de Parkinson. Hoje, no Brasil, existem diversos estudos com células-tronco adultas, mas, segundo a presidente do Movimento em Prol da Vida (Movitae), Andréa Bezerra de Albuquerque, isso não é suficiente.

"Uma pesquisa não anula a outra. Elas são complementares. Já foi comprovado que as células-troco adultas não serviram para algumas patologias, então a gente precisa das células embrionárias. Essas células são milagrosas porque são capazes de formar qualquer tecido, órgão ou célula do corpo. Já as adultas só formam células dos órgãos que a originaram", explica Andréa.

Para Andréa, a manifestação na Câmara tem um único objetivo: pedir a aprovação urgente do projeto: "A gente tem pressa. Não dá mais para esperar. Já perdemos muita gente desde janeiro de 2004. O Brasil tem tecnologia, recursos humanos, grandes pesquisadores, só falta a aprovação da lei para as pesquisas começarem".

Izabel Maior, da Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, lembra que as pesquisas desenvolvidas terão finalidade terapêutica e que o material utilizado será aquele que já está congelado nas clínicas de fertilização in vitro: "É um material que, após três anos de congelamento, não serve mais para ser implantado no útero, portanto é um material que só teria uma finalidade: o descarte. Entre descartar e pesquisar para chegar a uma possível cura para 15 milhões de diabéticos e mais cinco milhões de pessoas com doenças degenerativas genéticas, acho melhor pensar na pesquisa", diz.