Agricultores gaúchos exigem solução para problemas causados pela estiagem

24/02/2005 - 19h35

Lílian de Macedo
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) do Rio Grande do Sul e a organização internacional Via Campesina farão uma manifestação para exigir dos governos federal e estadual solução para os problemas provocados pela estiagem na região. A seca já dura mais de três meses e causou vários prejuízos para a agricultura e a pecuária. De acordo com o coordenador do MPA, Vilson Lubski, a mobilização será realizada nos primeiros dias de março.

De acordo com Lubski, o Movimento dos Pequenos Agricultores exige políticas mais claras em relação à seca. Ele disse que o governo precisa agilizar as vistorias agrícolas e definir a situação como calamidade. "Precisamos deste parecer para poder acionar o seguro", afirmou Lubski.
Além disso, os pequenos agricultores pedem extensão no prazo de pagamento das dívidas e financiamentos. "Estamos correndo risco de perder tudo", disse ele.

Para evitar prejuízos ainda maiores, muitos agricultores tentam organizar outros segmentos sociais para ampliar a manifestação. Um exemplo é o agricultor Antônio Caldart. Ele perdeu as lavouras de milho, feijão e parte da produção de leite por causa da seca e não tem dinheiro para pagar o financiamento no banco.

"A exemplo da minha propriedade, muitos pequenos agricultores terão de vender a vaquinha de leite e os bois que eles ocupam no serviço para poder pagar o financiamento. Com isso, toda a cidade perde. Por isso, estou mobilizando comerciantes, pecuaristas e empresários em favor da nossa causa", justificou.

A agricultora Liange Cristina Tws seguiu o exemplo de Caldart. Ela disse que cultiva pequenas lavouras de fumo, milho, soja e feijão há nove anos. E, para plantá-las, fez diversos financiamentos. Liange contou que, para tudo, fez dívidas. "Para plantar, a gente teve que fazer financiamentos. Então, a gente precisa negociar para ver como vai fazer", afirmou a agricultora, que não vê ações concretas do governo federal nem do estadual.

De acordo com a Assessoria de Imprensa do Ministério da Integração Nacional, as principais medidas de controle e prevenção são de responsabilidade do Estado. Já o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, argumentou que, além de acionar o governo federal, tem tomado outras iniciativas. A assessoria de imprensa do governo gaúcho informou que, no dia 18 deste mês, foi anunciada a contratação de uma empresa que bombardeia nuvens com sais de prata. O objetivo é provocar chuvas.

O processo, que ocorrerá nas cabeceiras dos rios, é desencadeado por equipamentos que produzem vapor de sais de prata. O vapor fixa as nuvens exatamente onde elas estão e aglutina a prata às gotículas já existentes. Com o peso extra, as gotas se precipitam. "É mais uma alternativa que se soma às medidas que o governo já está tomando para o amenizar os efeitos da estiagem", disse Rigotto. O método é comum em países como China, Paquistão, África do Sul e Israel e em regiões secas dos Estados Unidos.

A outra medida tenta expandir o prazo de pagamento das dívidas. Segundo o governador, o Banrisul já está analisando formas de prorrogar dívidas dos produtores. "Vamos levar o pleito também ao Banco do Brasil", assegurou o governador.

Essas medidas precisam ser eficazes. Isso porque um estudo da Unidade de Climatologia de São Leopoldo (RS) aponta a estiagem como um fenômeno cíclico no estado, assim como as enchentes. Por isso, deve se repetir nos próximos anos. Dados do estudo indicam alternâncias climáticas a cada década no Rio Grande do Sul, ou seja, há períodos de muita chuva e outros de seca prolongada. "Estamos vivendo uma estiagem em cima da outra. As chuvas que virão não devem trazer a normalidade pluviométrica para os gaúchos. Do ponto de vista técnico, a previsão é de seca por muito tempo", afirmou o coordenador de Relações Institucionais da Unidade, Alexandre Aguiar.