Spensy Pimentel e Marcos Chagas
Repórteres da Agência Brasil
Altamira (Pará) – Após o depoimento do acusado de ser o autor dos disparos que mataram a freira Dorothy Stang, os delegados que comandam as investigações afirmaram que as declarações de Rayfran das Neves Sales "excluem qualquer responsabilidade" do presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Anapu, Francisco de Assis de Souza, no caso. O sindicalista foi candidato a vice-prefeito na cidade e era amigo da missionária.
"Rayfran mencionou o nome de "Chiquinho" [sindicalista Francisco de Assis], mas ouvido na Polícia Federal, ele retificou o depoimento dele", afirmou o delegado da Polícia Federal, Ualame Fialho Machado, que não deu mais detalhes do depoimento porque o caso está sob segredo de justiça. O delegado, porém, afirmou que a equipe de investigação "nunca acreditou" na tese divulgada anteriormente por Rayfran, pois, segundo ele, "não era condizente com os autos".
As declarações anteriores do acusado, que já confessou o crime, repercutiram no Congresso Nacional, onde uma comissão parlamentar acompanha as investigações. A presidente da comissão, senadora Ana Júlia Carepa (PT-PA), afirmou que as falas de Rayfran das Neves não passam de "calúnias e de mais uma tentativa de grileiros e madeireiros de criminalizar o trabalho feito por irmã Dorothy".
Ana Júlia chegou a cogitar a possibilidade de divulgar uma nota oficial de repúdio às declarações. "Se, por acaso, a Polícia Civil do Pará ou a Justiça do Estado ‘embarcarem’ nessa história vão se colocar sob suspeita", afirmou a senadora petista na tarde desta segunda-feira. Para ela, esta versão é uma "clara tentativa de desviar a atenção dos investigadores" que tinham como um dos principais suspeitos como mandante do crime o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura.