Priscila Rangel
Da Agência Brasil
Brasília - O problema dos produtores de leite no Brasil, que foram forçados por empresas transnacionais a abandonar seus negócios, é um dos seis motivos apresentados pelo relatório da organização não-governamental Action Aid para parar com os abusos corporativos. Segundo o relatório, após terem comprado um grande número de cooperativas brasileiras na década de 90, a Nestlé e a Parmalat expulsaram do mercado cerca de 50 mil criadores de gado leiteiro, que não conseguiram se enquadrar às regras e aos altos padrões praticados por essas empresas.
Entre as exigências das empresas internacionais está, por exemplo, a instalação de tanques de refrigeração de leite nas propriedades, equipamento considerado de alto custo para a maioria dos pequenos agricultores. Além disso, com a entrada das multinacionais no mercado leiteiro, o lucro dos produtores de baixa renda diminuiu muito, devido à prática adotada pelas cooperativas de definir o preço a ser pago pelo litro do leite de acordo com o volume de produção. Com isso, os grandes produtores recebem mais pelo litro do mesmo leite por produzirem mais, enquanto é reduzido o valor pago aos pequenos criadores, que produzem menos.
As dificuldades encontradas pelo governo, durante a recessão econômica dos anos 80, para estimular a produção no Brasil, influenciaram na entrada de empresas estrangeiras, que por conseqüência, promoveram a oligopolização de diversos setores produtivos por multinacionais. Um exemplo disso é a Parmalat, multinacional detentora de parte significativa do mercado, que tem como estratégia de expansão a aquisição de empresas nacionais de base cooperativa ou privada e está entre as empresas que mais têm excluído produtores de baixa escala de suas atividades produtivas.
"A maneira mais eficaz de evitar esse tipo de abuso por parte das grandes corporações alimentícias é fortalecer as cooperativas lideradas pela agricultura familiar que promovem uma relação mais justa entre os cooperados além do desenvolvimento rural", afirmou Adriano Campolina, diretor da Action Aid Internacional para as Américas, que defende a intervenção do governo nas atividades das multinacionais para regular a competição e estabelecer políticas antitruste e anticartel.