Gabriela Guerreiro
Enviada especial
Porto Alegre - O 5º Fórum Social Mundial terminou hoje e uma de suas principais características é o que constitui a razão principal de sua criação: a pluralidade de sugestões, temas e atividades realizadas ao longo de uma semana, que não se consolidam em um único resultado final. O Comitê Internacional do Fórum defende o debate livre, paralelo, como ocorreu nas 2.500 atividades realizadas desde a última quarta-feira (27).
A reafirmação do princípios que originaram o fórum aprofunda o debate em torno da natureza do movimento "outromundista", principalmente depois que 19 intelectuais de renome, entre os quais o escritor uruguaio Eduardo Galeano, o ativista argentino, ganhador do Nobel da Paz, Adolfo Peres Esquivel e o jornalista franco-espanhol Ignácio Ramonet, divulgaram o Manifesto de Porto Alegre, que contém recomendações gerais para orientar a luta dos participantes do evento.
Para Oded Grajew, do Comitê Internacional do Fórum, o debate em si mesmo já tem que ser considerado uma forma de ação. As críticas contra a centralização dos resultados, segundo Grajew, vêm da concepção de que as discussões devem ser desvalorizadas quando não vêm acompanhadas de práticas. "Quem tem que fazer são os governos, a sociedade civil faz a pressão, muda a cabeça de todos, pressiona para que as coisas aconteçam. Isso é ação. E, quando se fala ação, não espere que as pessoas saiam daqui e joguem bombas. Nós estabelecemos que o nosso médoto de ação política não é violento. Nós agimos de forma pacífica e democrática, discutindo, debatendo, pressionando", enfatizou.
Já o diretor-geral do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e membro do comitê organizador, Cândido Grzybowski, disse que a mistura de idéias no fórum é a fórmula do sucesso dos debates. "Como fórum, cada um vem com suas idéias, a diversidade e a pluralidade. Diversidade em termos de diferentes atores sociais, e a pluralidade é que num mesmo ator você pode ter correntes políticas, ideológicas, visões diferentes. A mistura disso não permite que o fórum possa, no final, sair com uma declaração única porque ela seria muito pobre. Seria o mínimo denominador comum", defendeu.
Segundo Grzybowski, a pressão da sociedade civil por meio do debate é fundamental para a criação de políticas públicas em prol de um mundo mais justo. "Para isso se transformar em políticas que vão mudar a sociedade, depende da nossa pressão. E se de fato isso virar um grande movimento, uma onda, que se consolida e se empurra. É esse o sentido do fórum".
Para Francisco Whitaker, da Comissão de Justiça e Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e membro do comitê organizador, a crítica de falta de ações práticas do fórum existem desde a primeira edição do evento. "Essa crítica é de gente que não entende, pensa que o fórum é um movimento. Quando a gente percebe que o fórum não é um movimento, é um espaço para que novas propostas surjam, para que hajam discussões, aí não há problema", afirmou.
O escritor português José Saramago foi um dos intelectuais que este ano defenderam um fórum mais propositivo. "Um acontecimento como esse, o Fórum Social Mundial, em minha opinião - me permitam que eu deite um pouco d’água na fervura - pode vir a converter-se em um ritual sem demasiadas conseqüências", comentou. "Como se Porto Alegre fosse – e se continuarmos a vir aqui a Porto Alegre – uma espécie de Meca, onde os crentes, que somos todos nós, peregrinam uma vez por ano, ou de dois em dois anos, atirando pedras, como no caso de Meca supostamente ao diabo".
Já o Manifesto de Porto Alegre – Doze Propostas para Outro Mundo Possível, é uma carta de propostas assinada por 19 intelectuais vinculados ao Fórum Social Mundial que, segundo um de seus signatários, o jornalista Ignácio Ramonet, serve como síntese política das proposições do FSM e não significa um racha entre o Conselho do Fórum e as personalidades assinantes.