Rodrigo Savazoni
Enviado especial
Porto Alegre - Um dos principais exemplos de articulação política que utilizou o processo do Fórum Social Mundial para se fortalecer é a Rede Mundial dos Movimentos Sociais. Desde a primeira edição do Fórum, em 2001, e todos os anos a partir de então, organizações provenientes dos cinco continentes aproveitam esses encontros para realizar uma ampla assembléia, na qual definem estratégias, táticas e ações comuns. Em 2005 não foi diferente. Na manhã desta segunda-feira, último dia de Fórum, os movimentos se reuniram, debateram e lançaram a 4ª Declaração de Porto Alegre.
O principal resultado dessa articulação é o chamamento por uma campanha que prega o "imediato e incondicional" cancelamento da dívida externa dos países do sul, a começar pelas nações que foram atingidas pelo maremoto na Ásia. Lutas contra o livre-comércio, a Organização Mundial do Comércio, a ocupação norte-americana no Iraque e o processo de militarização do planeta, pela dignidade também constam da agenda dos movimentos. A primeira grande ação global de peso está prevista para o dia 19 de março e será contra a invasão norte-americana ao Iraque.
"A assembléia demonstrou a grande pluralidade de redes e movimentos. Foram muitas propostas, de articulações e campanhas, que demonstram a força das organizações", disse Luciano Muhnbauer, da coordenação italiana dos Movimentos Sociais. Conforme Muhnbauer, não há como precisar o número de organizações envolvidas na rede de Movimentos Sociais, mas "com certeza é superior a mil entidades".
A rede mundial de movimentos sociais começou a se constituir na primeira edição do Fórum Social Mundial, quando foi lançada a 1ª Declaração de Porto Alegre, que propunha a formação de uma ampla aliança de movimentos correlatos nos diferentes países. N segunda e terceira edição do FSM, a mobilização avançou e agendas de ação comum foram construídas. Os encontros resultaram em novas declarações, que contribuíram para difundir a aliança em todo o mundo e delimitar o seu espaço de atuação.
De acordo com o site www.movsoc.org, do secretariado internacional dos movimentos sociais, compõem essa ampla articulação grupos que lutam contra a globalização neoliberal, a guerra, o racismo, o fanatismo religioso, a pobreza, o patriarcalismo e todas as formas de discriminação e exclusão, sejam elas étnicas, sociais, políticas, culturais, sexuais ou de gênero. "Estamos todos lutando por justiça social, cidadania, democracia participativa, direitos universais e pelo direito dos povos de decidirem seus futuros".
O grande momento dessa articulação, que se reivindica uma resultante dos Dias de Ação Global, responsáveis em meados da década de 90 por um novo sentido para as lutas sociais no mundo todo, foi a reunião de oposição à rodada de Cancun da Organização Mundial do Comércio (OMC), em setembro de 2003. Na ocasião, mais de 10 mil camponeses, indígenas, jovens e trabalhadores viajaram até o Caribe para barrar as negociações da OMC. A rodada restou inconclusa, parte pela atuação dos movimentos, parte pela falta de consenso entre os países.