Benedito Mendonça
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Virgílio Arraes, disse que o pior dos cenários para a realização de uma eleição que se pretende democrática é o que os eleitores enfrentam hoje no Iraque: de um lado, as autoridades que apelam para que a população compareça às urnas e vote, e de outro os grupos extremistas que ameaçam matar quem for votar.
Em entrevista à Rádio Nacional AM, o professor Arraes afirmou que a população se sente acuada e com medo de comparecer aos locais de votação. No entanto, ele advertiu que não é só isso que compromete a eleição: "Além desse receio, boa parte da população não sente legitimidade na convocação das eleições, visto que o processo eleitoral está sendo tutelado ou mesmo controlado pelos Estados Unidos".
Questionando o momento escolhido para a realização da eleição no Iraque, "uma vez que a comunidade internacional não está participando mais proximamente do processo", o professor alertou para o fato de que, da forma como está, "fica parecendo que é uma espécie de um referendo para legitimar um governo que está muito próximo dos Estados Unidos".
O professor da UnB disse ainda que, para os Estados Unidos, bancar esta eleição é uma questão de honra, por ter garantido que ela seria nesta data. "A présença dos Estados Unidos na região seria por dois motivos: o petróleo e a eliminação de ditaduras para instalação de regimes democráticos", afirmou ele, lembrando que os americanos não são vistos como libertadores e sim como invasores: "Dessa forma, todo processo que seja colocado lá com a presença das tropas americanas vai ser visto sempre sem legitimidade".
Outros problemas citados pelo professor são o pequeno número de observadores internacionais para fiscalizar as eleições e a insegurança vivida pela imprensa, que antes era respeitada no seu trabalho porque ajudaria a divulgar erros e abusos cometidos pelas tropas de ocupação. Segundo o professor Arraes, as informações de hoje são truncadas "porque a imprensa não tem livre acesso aos acontecimentos".