FSM: Chávez visita assentamento, assina acordo e lança Escola de AgroEcologia

30/01/2005 - 14h34

Gabriela Guerreiro
Enviada Especial

Porto Alegre – Foram mais de três horas sob um forte sol de mais de 30 graus, chão de areia batida e muito calor, mas o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, não fugiu em nenhum momento ao estilo que se tornou sua marca registrada. Durante visita a um assentamento de agricultores do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) no município de Tapes, a 130 quilômetros de Porto Alegre, Chávez caminhou entre as casas, conversou com os trabalhadores e, no final, plantou uma árvore para que a sua passagem pelo acampamento seja lembrada pelos camponeses.

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, assinou com o presidente Chávez um protocolo de intenções para o intercâmbio e reprodução de sementes nativas pelos agricultores brasileiros e venezuelanos. "Vamos oferecer à Venezuela toda a semente que o país necessitar para que não precise depender de soja transgência da Monsanto", garantiu o coordenador nacional do MST, João Pedro Stédile.

Chávez e Rossetto também assinaram um documento que lança o início das discussões para que seja implementada no Brasil a Escola Latino-Americana de AgroEcologia, a exemplo do modelo executado na Venezuela. Um grupo de 20 estudantes da escola acompanhou a visita de Chávez ao assentamento. "É um modelo diferente que tenta preparar os estudantes para que tenham direito à educação gratuita", disse o venezuelano Areni Ramos, de 22 anos.

Logo na chegada ao assentamento, Chávez desceu do carro e foi caminhar entre as casas dos trabalhadores rurais. No total, 30 famílias vivem no assentamento Lagoa do Junco da rizipiscicultura – o cultivo de arroz e a pesca de peixes de forma organizada. O presidente venezuelano conversou com vários grupos de camponeses, questionou sobre a qualidade de vida no assentamento e outros temas agrícolas, além de perguntar detalhes sobre o cotidiano dos trabalhadores rurais.

No palanque reservado para o seu discurso, o presidente da Venezuela manteve o mesmo espírito popular. Ao som das músicas entoadas pelos trabalhadores sem terra, Chávez batucava no microfone para acompanhar o ritmo. Na chegada de um grupo de argentinos do movimento "Barrios de Pie", que lutam contra a globalização, Hugo Chávez parou o discurso para ouvir a marcha entoada pelos argentinos. "Eu não venho aqui como presidente, mas como campesino. Eu não sou presidente, estou presidente", enfatizou Chávez para o grupo de 500 trabalhadores que acompanharam a visita.

O discurso de Chávez durou 50 minutos. A previsão era de que o presidente da Venezuela falasse por somente meia hora. Mas ele próprio admitiu que o tempo era muito pouco diante da importância da visita ao assentamento. "Só tenho cinco minutos"? - questionou sua assessoria. "Então vou aproveitar! Vocês querem água, café?", brincou Chávez com a platéia.

O menino Jaime Rocha, de cinco anos, filho de um dos trabalhadores rurais do assentamento, se aproximou do palanque durante o discurso de Chávez. O presidente venezuelano interrompeu a fala para conversar com o futuro agricultor. "Quantos anos você tem? Cinco anos? A mesma idade que o Fórum Social Mundial! É um forito....", disse.

Diante do pequeno agricultor, Chávez deixou mensagem de otimismo para os agricultores. "Essa é a minha luta. Para eles, para o futuro. Por isso é que precisamos salvar o mundo. Eu também tenho um neto a caminho, e é por ele a batalha", disse Chávez.