Campanha debatida no Fórum prega boicote aos produtos da Coca-Cola

29/01/2005 - 18h39

Rodrigo Savazoni
Enviado Especial

Porto Alegre (RS) – A relação entre a multinacional Coca-Cola e os movimentos de esquerda não pode ser considerada amistosa. Outrora apelidada de a "água negra do capitalismo", a bebida norte-americana é, segundo o seu site oficial, produzida atualmente em mais de 200 países do mundo – a Organização das Nações Unidas (ONU) possui 191 membros. Em cada um deles, conforme afirmam os ativistas de uma campanha mundial que prega o boicote aos produtos da Coca Cola Company, deixa um rastro de contaminação e crise do abastecimento de água, desemprego e mortes.

A Panamco, principal engarrafadora do produto na América Latina, está sendo processada nos Estados Unidos acusada de ter contratado paramilitares para matar e intimidar líderes sindicais. Na Índia, por sua vez, a empresa é questionada por um amplo e crescente movimento social que a ela atribui inúmeros males, entre os quais causar falta de água em comunidades; poluir a água subterrânea e o solo nos arredores das suas plantas de engarrafamento; distribuir seu lixo tóxico como "fertilizante" aos agricultores e vender refrigerantes misturados com pesticida.

"Nós fizemos uma pesquisa que mostrou que o índice de pesticidas na Coca-Cola comercializada na Índia é até 30 vezes maior do que o que se encontra no mesmo produto nos Estados Unidos e na União Européia", revela Amir Srivastaya, coordenador indiano da campanha contra a Coca-Cola.

Em debate realizado no Fórum Social Mundial, na tarde deste sábado (29), colombianos e indianos se uniram para relatar a um público formado na maioria por jovens estrangeiros histórias sobre a atuação da empresa norte-americana em seus países e para defender o boicote aos produtos da Coca-Cola Company.

Na Índia, o movimento de resistência à ação da multinacional é encabeçado principalmente pelos agricultores. "70% dos indianos vivem de atividades ligadas à agricultura", informa Srivastaya. Com participação das mulheres, das Adivisas (populações indígenas), dos Dalits (castas mais baixas), dos trabalhadores em agricultura e fazendeiros, o movimento já conseguiu expressivas vitórias. Entre elas, o fechamento "temporário" da principal planta de engarrafamento de água da Coca-Cola no vilarejo de Plachimada, no estado do Kerala.

Na Colômbia, a resistência é liderada pelo Sindicato Nacional de Trabalhadores da Indústria de Alimentos (SinalTrainal), que também contesta a atuação da Nestlé no país. "Estamos falando da maior e mais criminosa empresa do mundo", afirmou no evento Edgard Paez Melo, membro do SinalTrainal e um dos coordenadores da Campanha na Colômbia. Segundo Paez, a Coca-Cola se aliou aos paramilitares que foram considerados pelo governo norte-americano como organizações terroristas. "Terroristas se reúnem com terroristas", disse sob aplausos.

No site oficial da Índia Resource há informações em português sobre a campanha internacional. A Coca-Cola (www.cocacola.com), conforme revelou Paez no evento deste sábado, sofre boicote de 67 universidades e faculdades norte-americanas e, desde dezembro do ano passado, está proibida em cerca de 250 municípios italianos.