Gênero, macroeconomia e políticas públicas em debate

28/08/2004 - 11h36

Alessandra Bastos
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Termina hoje, na Universidade de Brasília (UnB), o primeiro curso brasileiro sobre "Gênero, Macroeconomia e Políticas Públicas no Brasil". A idéia é incentivar pesquisas sobre o tema e também oferecer subsídios para o debate político e o diálogo entre o governo e a sociedade civil. Para a oficial de programa do Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem), Florence Raes, "na sua maioria, as políticas macroeconômicas não tomam em conta as diferenças entre os gêneros por achar que devem ser tratadas no campo das políticas sociais, o que contribui para reproduzir essas desigualdades", afirma.

Pesquisadores, professores de economia, parlamentares e organizações das sociedades civis estão reunidas. O curso é gratuito e financiado pelo Unifem. Países africanos de língua portuguesa como Moçambique, Campo Verde e Guiné Bissau também participam. "Acredito que essa troca possa incentivar a formação de conhecimentos alternativos", diz Florence Raes. Entre os inscritos, estão técnicos do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). "É importante que se faça estatísticas diferenciadas por sexo para ajudar na análise das políticas públicas", ressalta a oficial.

Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), de cada cem cargos de chefia, apenas dezessete são ocupados por mulheres. Mas esse percentual vem melhorando. A proporção de mulheres empregadas passou de 28% em 2000 para 31% em 2002. O levantamento foi realizado a partir dos balanços sociais anuais de 212 empresas, que juntas representam 34% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.

A taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho do Brasil é de 55%, quase 30 pontos percentuais inferior à taxa de participação masculina, de 82%. Os dados são da pesquisadora Laís Abramo, especialista regional em temas de gênero e trabalho da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Segundo o estudo, "os dados refletem a dificuldade que um contingente importante de mulheres, especialmente as mais pobres e com menos escolaridade, ainda tem que enfrentar para poder entrar no mercado de trabalho", diz o texto.

O levantamento da OIT conclui também que a taxa de desemprego das mulheres (11,7%) é 31% superior à dos homens (7,4%). Esse valor se torna ainda maior quando a questão racial também é avaliada. A taxa de desemprego das mulheres negras (13,8%) é 86% superior à dos homens brancos (6,5%). O pagamento também é diferenciado. As mulheres recebem, em média, por hora trabalhada, 79% do que recebem os homens. Por mês, essa proporção se reduz a 66%.