ABI promove sessão para lembrar os 50 anos da morte de Vargas

23/08/2004 - 13h58

Cristiane Ribeiro e Daisy Nascimento
Repórteres da Agência Brasil

Rio, 23/8/2004 (Agência Brasil - ABr) - O escritor Carlos Heitor Cony disse hoje que o aspecto mais sombrio da Era Vargas foi em 1937, quando Getúlio impôs o regime da ditadura. Segundo Cony, Getúlio Vargas não era ditador, mas teria sido induzido pelos militares a instaurar a ditadura. "Getúlio foi praticamente usado por militares para que fosse instaurada uma ditadura sem que eles tomassem o poder", disse. Cony lembrou a força que os militares tinham sobre Getúlio e citou os generais Góes Monteiro e Eurico Gaspar Dutra.

O escritor, que lançou este ano o romance histórico "Quem Matou Vargas", abriu o primeiro painel de debates da sessão que lembrou os 50 anos da morte de Getúlio Vargas, na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).

Carlos Heitor Cony comentou que o presidente Getúlio Vargas teria demonstrado a intenção de se matar em duas ocasiões: a primeira, quando se sentiu fracassado na Revolução de 1930, e a segunda, em 1938, quando os integralistas tentaram invadir o Palácio Guanabara, então residência oficial do presidente da República, para matá-lo ou tirá-lo do poder. Segundo o escritor, na segunda oportunidade, Getúlio acabou sendo convencido por sua filha Alzira a entrar em um acordo com os integralistas e não tomar medidas extremas.

O jornalista Vilas Boas Corrêa, que também participou do debate, destacou o lado romântico de Getúlio Vargas e leu vários trechos do diário íntimo do presidente. Ele lembrou que Getúlio trabalhava 16 horas por dia e que ainda assim tinha tempo para manter romances paralelos ao casamento.

O vice-presidente da ABI, Milton Temer, explicou que o evento teve também um sentido de gratidão pelas conquistas conseguidas durante o Governo Vargas, tanto no aspecto econômico, com a criação da Petrobras, Companhia Siderúrgica Nacional, Loyd Brasileiro, quanto nos avanços sociais, com a criação do salário mínimo, férias remuneradas, folgas nos fins de semana.

Para Temer, a homenagem a Getúlio Vargas também é uma possibilidade de debater as "contradições" do governo do ex-presidente. O jornalista lembrou que ao mesmo tempo em que Getúlio prestigiava a Associação Brasileira de Imprensa, estabelecia a censura na mídia pelo Departamento de Imprensa e Propaganda.

O vice-presidente da ABI lembrou ainda que o prédio que abriga a sede da associação foi construído no período Vargas, antes mesmo do prédio do antigo Ministério da Educação (MEC). "Hoje, o prédio da ABI é um dos patrimônios histórico e arquitetônico mais importantes do país".

Milton Temer disse também que a sessão de hoje, que foi aberta ao público, representa a retomada de uma prática muito usada na década de 70. "Nosso objetivo é transformar a ABI num espaço permanente de mobilização social, como ela foi durante o regime autoritário de 70". Ele lembrou que a Associação Brasileira de Imprensa deu um "pontapé" importante para a criação de cineclubes, espaços onde as pessoas se reuniam para assistir filmes de cineastas como Glauber Rocha, que tinha como lema "uma câmera na mão e uma idéia na cabeça", ressaltou.