Brasília, 12/7/2004 (Agência Brasil - ABr) - O agronegócio brasileiro vai pedir mais ousadia nas negociações do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Européia por parte dos negociadores brasileiros. Dirigentes da Confederação Nacional de Agricultura (CNA) vão entregar ainda nesta semana um documento ao governo com as queixas referentes ao acordo, que será discutido na próxima semana, em Bruxelas, em mais uma reunião do Comitê de Negociações Birregionais. Eles vão pedir também uma audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para mostrar que regras podem ser cumpridas pelo agronegócio no processo de negociação internacional.
De acordo com o vice-presidente da entidade, Gilman Viana Rodrigues, o Acordo-Quadro Inter- Regional de Cooperação Mercosul/União Européia não reflete uma igualdade nas propostas apresentadas pelos dois lados. Por isso, a "carta-queixa" ao governo brasileiro será encabeçada pela crítica à proposta européia de cotas de exportação em troca de reduções tarifárias. "É desigual porque depois que o Mercosul atingir a cota de exportação o benefício acaba, enquanto a União Européia continua se beneficiando da redução tarifária eternamente", observou Rodrigues.
A cota de exportação oferecida para a carne, por exemplo, é de 100 mil toneladas/ano para todo o bloco. Para o álcool combustível (etanol) é de 1 milhão de toneladas. O Mercosul havia pedido cotas de 315 mil toneladas para a carne, de 3 milhões de toneladas para o etanol, de 250 mil de toneladas para o frango e de 120 mil de toneladas para a banana. A oferta da UE para o frango foi de 75 mil toneladas e de 30 mil toneladas para a banana. O Brasil, sozinho, exporta 3 milhões de toneladas de bananas anualmente para a Europa e 300 mil toneladas de carne.
Os dirigentes da CNA querem que as cotas sejam negociadas periodicamente, levando-se em conta a demanda do produto no mercado. "Essa regra tem que ser flexível, não se pode fixar números", disse o chefe do Departamento de Comércio Exterior da CNA, Antônio Donizeti Beraldo.
A pressão do agronegócio se justifica pelo volume de comércio que se dá entre os dois blocos. Do total de exportações do Mercosul, 40% vão para a União Européia. "O grosso disso vem do agronegócio", informou Beraldo.
A reunião para fechar os termos do acordo UE/Mercosul com os ministros dos dois blocos está marcada para outubro e os dirigentes da CNA acreditam que o agronegócio pode colaborar com sugestões. "Estamos discutindo propostas para que os negociadores brasileiros as levem em conta, afinal o governo é quem vai para a mesa de negociação, mas quem cumpre as regras é o setor privado", alertou.
O vice-presidente e o chefe de Comércio Exterior da CNA receberam hoje, pela manhã, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, na sede da entidade e adiantaram o teor do documento que será encaminhado a todas as autoridades brasileiras que trabalham nas negociações internacionais UE/Mercosul. "Aproveitamos para dizer ao chanceler que o setor agrícola está inseguro (quanto às negociações entre os dois blocos) e com medo de que o acordo não avance", relatou o vice-presidente da CNA, Gilman Rodrigues.