Especial 4 - Reunião nos EUA em 1989 ditou futuro da América Latina e prenunciou Real, diz estudo

01/07/2004 - 12h21

André Deak
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Mais do que um plano para trazer estabilidade ao país, o Plano Real foi "responsável pela condução da economia brasileira à nova ordem internacional – ordem esta idealizada e implementada pelo Consenso de Washington", de acordo com pesquisa iniciada em 2002 pelo grupo de Desenvolvimento Econômico, Regional e Urbano da PUC-Campinas.

"Consenso de Washington" foi como ficaram conhecidas as conclusões de uma reunião ocorrida na capital norte-americana em 1989, da qual participaram muitos dos credores de dívidas latino-americanas. O oficial de assuntos econômicos da Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (Cepal), Carlos Mussi, explica que "o Consenso foi um capítulo no qual apenas resumiu-se o que seria necessário para ajudar os países a estabilizarem suas economias. Foi o reconhecimento de algumas práticas em que o Estado abria mão de alguns controles – sugeriam as privatizações, por exemplo". Mussi concorda que "para ter acesso àquele capital estrangeiro, (os países) sentiam-se compelidos a aceitar aquilo. Mesmo quem ainda não tinha feito a estabilização, como o Brasil".

O economista, sócio-diretor da LCA Consultores e ex-assessor especial do Ministério da Fazenda Bernardo Macedo, também diz que a reunião nos EUA influenciou o futuro dos países latinos. "Quem deve muito fica mais exposto às recomendações dos credores. O Consenso de Washington era a síntese das sugestões dos credores", afirma.

Macedo explica que, "além da estabilização em si, houve uma perspectiva de redução da influência do Estado na economia. E também uma liberalização dos fluxos financeiros e comerciais. Esse ideário liberalizante esteve presente naquela época – e ainda está diga-se de passagem".

Os vizinhos da América Latina

O Brasil foi um dos últimos países a implantar um modelo de estabilização, principalmente porque tinha desenvolvido instrumentos avançados de indexação – os bancos tinham contas que eram corrigidas diariamente, por exemplo. No começo dos anos 90, México, Chile, Argentina e Peru, por exemplo, já haviam encerrado um período de preços incontroláveis.

Carlos Mussi explica que o modelo de estabilização mexicano, de 1987, foi "um plano via coordenação de políticas – o Pacto da Solidariedade – em que os agentes combinaram que não haveria aumento. Era um rumo de desenvolvimento mirando a Área de Livre Comércio da América do Norte, o NAFTA". Na Argentina, ele diz, "preferiu-se a semi-dolarização da economia".

O destaque "mais interessante", de acordo com Mussi, foi o Chile. "A prática chilena foi feita num bom momento, não na crise. Adotaram um mecanismo em que capitais de curto prazo teriam que ter uma quarentena antes de qualquer saída. Eles sempre tiveram essa política de controlar a entrada do capital", diz. Além disso, "inauguraram um Banco Central ‘independente’, que tinha uma composição política com indicações da oposição e do governo".