Colaboradores do governo FH apontam: negligência com crescimento e controle fiscal foi falha do Real

01/07/2004 - 12h50

Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil

São Paulo - Dez anos após a implementação do Real, economistas e colaboradores do governo Fernando Henrique Cardoso apontam falhas na estratégia montada sobre a política econômica. As afirmações foram feitas ontem, durante o seminário "Desafios da Estabilidade da Moeda: Dez Anos de Plano Real", organizado pelo jornal Valor Econômico, na capital paulista.

O economista Pérsio Arida, ex-presidente do Banco Central e do BNDES e um dos mentores dos planos Cruzado (no governo de José Sarney) e Real – com Edmar Bacha e André Lara Rezende -, lembrou que, nos anos 80, nem se falava em crescimento. "A economia brasileira era um cavalo bravo com dinamismo intrínseco. Acreditava-se que, se resolvêssemos o problema da inflação, o assunto se resolveria", recorda. O tema do crescimento continuou esquecido na década seguinte. "Em 1995, a discussão sobre câmbio era secundariamente uma discussão sobre crescimento", afirmou Arida.

"Naquele momento, quem estava no poder deveria saber as restrições do país, especialmente na questão fiscal. Hoje, ouvimos explicações que não podem ser aceitas sobre o sucesso limitado do Plano Real", avaliou Luiz Carlos Mendonça de Barros, hoje publisher da revista e site Primeira Leitura. A Lei de Responsabilidade Fiscal só foi aprovada em 2000, no meio do segundo mandato de FHC como presidente.

Eliana Cardoso, professora da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas/SP e secretária de assuntos internacionais do Ministério da Fazenda em 1995, concorda com a avaliação. "Sempre existe mais de um vilão, mas os problemas enfrentados pelo Real residem, sobretudo, na fraqueza da política fiscal".

Ibrahim Eris, ex-presidente do Banco Central (entre março de 90 e maio de 91, no governo Collor) e sócio-diretor da Linvest Participações, é mais duro em sua avaliação. "Nos primeiros quatro anos do Plano Real, havia uma verdadeira farra fiscal, que beirava a irresponsabilidade. Por algum motivo, não perceberam que isso era incompatível com um plano de estabilização", afirmou.