Brasil e China negociam aplicações de satélites em fase de desenvolvimento pelos dois países

28/05/2004 - 8h20

Maurício Cardoso
Repórter da Agência Brasil

Brasília, 28/5/2004 (Agência Brasil - ABr) - Projetar, construir, testar e operar satélites é uma tarefa que exige o domínio da tecnologia espacial. Desde 1993, quando lançou o primeiro satélite artificial totalmente desenvolvido com tecnologia nacional – SDC-1 -, o Brasil ingressou no seleto grupo de países capazes de desenvolver e utilizar tal tecnologia. Ao longo das últimas décadas, o Brasil também consolidou uma importante comunidade cientifica especializada em atividades espaciais, sobretudo nas áreas de sensoriamento remoto e meteorologia por satélites.

Hoje, no anfiteatro da Universidade de Brasília, estudantes de diversas instituições conheceram um pouco da tecnologia e da capacitação especial brasileira na palestra proferida pelo pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Himilcon Carvalho, dentro do Ciclo Quintas Espaciais promovido pela Agência Espacial Brasileira (AEB).

Coordenador do Programa de Satélites Científicos e Experimentos do Instituto, Himilcon abordou os vários fatores que definem um sistema espacial, como carga útil, órbita, ambiente espacial, compatibilidade eletromagnética, controle térmico e componentes eletrônicos. Utilizando um tradicional brinquedo de criança – o peão -, ele demonstrou didaticamente o funcionamento de um satélite em órbita e arrancou aplausos do público.

O Brasil já desenvolveu e produziu dois satélites de pequeno porte destinados à coleta de dados ambientais: o SDC-1 e o SDC2. O primeiro, lançado em 1993, marcou a entrada definitiva do país na tecnologia espacial e abriu caminho para o domínio do espaço. Projetado para operar durante um ano, o Satélite de Coleta de Dados 1 continua em plena atividade e coletando dados ambientais em todo o território nacional.

O SCD-2 foi lançado em 1998 e atualmente opera de forma conjunta com o SCD-1. Os dados coletados pelos dois satélites são usados em diversas aplicações, como previsão do tempo, estudos sobre correntes oceânicas, química da atmosfera, planejamento agrícola e monitoramento das bacias hidrográficas, entre outras. As informações captadas são transmitidas para centenas de plataformas de Coleta de Dados (PCDs) instaladas em terra e em bóias oceanográficas.

O próximo lançamento será o SCD-3, que ficará situado em órbita circular equatorial a uma altura de 1.100Km. Ele permitirá uma varredura territorial complementar à dos demais satélites SCD e a dos satélites CBERS, possibilitando a ampliação da capacidade de recepção e transmissão de dados.

Os satélites da série CBERS (China Brazil Earth Resource Satellites) são frutos da parceria firmada entre Brasil e China, em julho de 1988, para o desenvolvimento de satélites de sensoriamento remoto para coletar dados de recursos naturais e do meio ambiente terrestre. Os dois satélites sino-brasileiro circulam pela órbita da terra registrando imagens e coletando dados ambientais dos dois países, oferecendo subsídios para estudos e resolução de problemas ligados às mais diversas áreas como agricultura, confecção de mapas geológicos, obtenção de dados oceanográficos, planejamento urbano e controle do desflorestamento da Amazônia.

O CBERS-1 foi colocado em órbita em 1999 e o CBERS-2 em outubro de 2003. Ambos foram lançados por foguetes chineses da série Longa marcha 4-B e estão situados a cerca de 800 quilômetros. Eles são equipados com três câmeras de média resolução: uma WFI "grande angular", uma CCD "teleobjetiva" e outra que registra imagens no infra-vermelho.

Essas imagens abastecem o Brasil e a China de informações sobre a dinâmica das transformações de grande escala ocorridas no solo e suas informações são fundamentais para a elaboração de políticas públicas. O Brasil, por exemplo, faz uso intensivo das imagens para monitorar o desmatamento e a ocorrência de queimadas na Região Amazônica. Para os chineses, as imagens coletadas foram a principal fonte de informações aplicadas nos grandes projetos de transposição de águas, do sul para o norte, e de gás, do oeste para o leste.

Brasil e China já estão negociando as aplicações dos satélites CBERS 3 e 4, em fase de desenvolvimento pelos dois países. Os novos satélites levarão câmeras mais avançadas, que permitirão maior resolução de detalhes do solo. Os lançamentos estão previstos para 2006 e 2007.

O ciclo de palestras Quintas Espaciais acontece uma vez por mês, sempre às quintas-feiras, e tem por objetivo ampliar o conhecimento e o debate de assuntos da área espacial.

Outro foi a assinatura do acordo de cooperação Brasil-Ucrânia para a formação de uma empresa binacional que explorará o lançamento da base de Alcântara do veículo ucraniano Ciclone-4 e ainda o início de mais uma cooperação científica e tecnológica muito promissora para ambos os países.

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