Especial 2 - Fotógrafo lamenta redução no número de salas de cinema

06/05/2004 - 11h24

Alessandra Bastos
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Paraibano, morador do Rio de Janeiro e hoje tentando administrar uma agenda lotada de compromissos, Walter Carvalho teve seu primeiro contato com o cinema a pedido do irmão mais velho, o também premiado documentarista Wladimir Carvalho. Ajudava nas filmagens, andava atrás do fotógrafo carregando uma caixa de madeira com duas baterias de motocicleta. "Era uma forma improvisada e divertida de fazer cinema", lembra.

Atualmente, uma das características do trabalho de Walter Carvalho apontada por profissionais da área é a versatilidade. Dos tons amarelados retratando o Nordeste em "Amarelo Manga" ao colorido brilhante de "Madame Satã", ele passa ainda pelo preto e branco de "Terra Estrangeira" ou pela paisagem rural de "Lavoura Arcaica".

Todos esses filmes foram premiados no Brasil e também no exterior. Walter Carvalho também já levou duas vezes o Golden Camera, principal prêmio mundial da categoria, na República da Macedônia, com "Terra Estrangeira" e "Central do Brasil".

Mas na opinião do fotógrafo – ou diretor de fotografia, para usar a linguagem cinematográfica – o maior problema do cinema brasileiro hoje é a falta de salas de exibição. "Não entendo nada de políticas de cinema. A única que sei é que a gente tem que tomar conta das salas. Nós temos mais filmes do que salas e disputamos de forma desigual com o cinema estrangeiro. Seria a favor de qualquer atitude do governo no sentido de conquistar esse espaço. E não entendo por que é tão complicado o mercado para o cinema brasileiro, se ele faz tanto sucesso em qualquer lugar que vá", questiona.

Walter Carvalho completa afirmando que não adianta fazer um cinema preocupado com as questões brasileiras sem que haja um espaço para mostrá-las. "Se pegássemos de volta o espaço que o cinema americano tomou da gente, estaríamos sendo revolucionários. Eu preferia que o ‘Cidade de Deus’, em vez de 3,5 milhões, fizesse 10 milhões de espectadores no Brasil e não 10 milhões nos Estados Unidos. Eu não estou interessado no que o americano está pensando da gente. Eu estou preocupado com o que a gente está achando da gente", afirma.

E volta ao tema da imagem: a do presidente Lula, para Walter Carvalho, ainda é a mesma que o emocionou e continua a emocionar. "Acho que Lula pegou um país quebrado e o país continua quebrado. Não entendo como é que uma pessoa pode salvar, de repente, um país que estava à beira do abismo há muito tempo. Não acredito em mais ninguém, só acredito nele. Se ele não der certo, estamos perdidos. Por isso eu acho que vai dar certo. Aliás, eu acho que está dando certo. Aliás, por isso é que está certo".