Gabriela Guerreiro e Nelson Motta
Repórteres da Agência Brasil
Brasília - A primeira reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o Conselho Político foi mais uma troca de informações sobre a política econômica do governo do que um espaço para cobranças dos presidentes de partidos aliados sobre o relacionamento com o Executivo. Nas mais de três horas de reunião, no Palácio do Planalto, temas mais polêmicos que tramitam no Congresso Nacional, como o novo valor do salário mínimo e a Medida Provisória que proibia o funcionamento dos bingos, não foram tratados a fundo, segundo relatos dos presidentes de partidos aliados que participaram da reunião.
Os presidentes de partidos aproveitaram o encontro para apresentar a visão de cada legenda sobre a condução da economia. O presidente do PPS, Roberto Freire (PE), adotou um tom crítico. Depois de ouvir a explanação do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, Freire disse que deixou claro que não concorda com a atual política econômica. "Nós temos uma visão de que essa política econômica é continuidade de política que nós, na campanha, fomos contra. Isso não é herança maldita. Foi uma herança muito bem-vinda pela equipe econômica. É uma continuidade da política (do governo anterior), um equívoco", afirmou.
Freire atribui à política econômica a culpa por medidas adotadas pelo governo, como o recente reajuste de R$ 20 do salário mínimo. "A minha preocupação é com política macroeconômica, o salário mínimo é mero detalhe. O mínimo está com esse valor exatamente em função de uma política macroeconômica", criticou.
O presidente do PT, José Genoíno, defendeu a condução da economia. Segundo ele, o ministro Palocci fez um balanço bastante positivo sobre a maneira como vem conduzindo a política externa e, também, sobre os rumos da economia do país que começa a dar sinais de crescimento - com a geração de empregos e programas de infra-estrutura, crédito popular e cadeias produtivas que vão gerar emprego.
"O presidente Lula colocou claramente no encontro que a política econômica conduzida de maneira séria, consistente e responsável, já está produzindo resultados positivos. Não foi uma reunião de cobranças, foi uma reunião de diálogo. É claro que quando a gente intensifica o diálogo e a conversa, a unidade política e a pactuação, com a base aliada, que é um governo de coalizão, vai aumentar. Esse é o caminho que estamos construindo".
O ministro Palocci e o presidente Lula apenas ouviram os pontos de vista dos partidos aliados. Não houve espaço para debate, mas a garantia, segundo Roberto Freire, de que cada partido poderá apresentar suas sugestões à política econômica do governo. "O ministro está aberto ao diálogo. Eu anunciei que vou entregar ao presidente e vou discutir com a equipe econômica quais são as posições do PPS. Temos divergências em relação à condução da política econômica", disse Freire.
Sobre a participação dos aliados no governo, o presidente do PPS disse que não houve "desabafo" por parte dos presidentes do partidos, ou mesmo cobrança de maior unidade. "Unidade, todo mundo pede. Ele (Lula) disse que era bom o governo ter uma base unida, coesa. Mas não teve nenhum apelo. Ninguém fez críticas", garantiu.