Campanha alerta caminhoneiros sobre a exploração sexual de crianças e adolescentes

06/05/2004 - 13h35

Brasília, 6/5/2004 (Agência Brasil - ABr) - Há 12 anos na estrada transportando cargas, o caminhoneiro paranaense Arley Arseno confirma um aumento brutal no número de crianças e adolescentes que se prostituem nas estradas brasileiras. Para Arseno, isso já existia antes de ele começar a viajar. Casado há 18 anos, ele diz que não se envolve, mas que é comum ver muitas crianças de 12 a 18 anos nas estradas de todo o país nessas condições. "É um problema muito sério e as autoridades deveriam tomar uma providência a respeito disso". O caminhoneiro atribui o problema às dificuldades econômicas da população de menor poder aquisitivo. "Então, uma das opções do povão é partir para sexualidade", afirmou.

Um Manifesto Contra o Abuso e a Exploração Sexual Infantil começou a ser feito hoje nos principais trechos das estradas brasileiras. O objetivo é alertar caminhoneiros e empresários do setor de transporte para a gravidade do problema. Estão sendo colhidas assinaturas de apoio à iniciativa, que farão parte de um documento a ser entregue ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 18 de maio, Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração de Crianças e Adolescentes.

Neste dia, o presidente deverá assinar o "Pacto Nacional pela Erradicação da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, proposto pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Congresso Nacional que investiga esse tipo de crime. O relatório final dos trabalhos da CPMI será apresentado dia 8 de junho. Instalada em junho do ano passado, a comissão recebeu cerca de 800 denúncias de todo o país, visitou 15 estados, realizou diligências, aprovou mais de 120 requerimentos e expediu quase 800 ofícios a vários órgãos e autoridades. A CPMI vai requerer, ao Ministério Público da União (MPU), o indiciamento de aproximadamente 100 pessoas, entre aliciadores e abusadores.
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Sobre a mobilização que está sendo feita para conscientizar os caminhoneiros, Arley Arseno acredita que já era hora de se fazer uma campanha desse porte. "É um crime, onde a maioria dos envolvidos é menor de idade e tem muitas doenças, como a aids. Muitos caminhoneiros nem tem conhecimento a respeito disso". Ele sugere que sejam feitas rondas e alertas constantes por parte da Polícia Rodoviária e dos veículos de comunicação, como o rádio e a televisão, "para conscientizar a população, o motorista e a própria criança ou adolescente".

Representantes das unidades do Serviço Social do Transporte (Sest) e do Serviço Nacional de Aprendizado do Transporte (Senat), com o apoio da Agência Nacional dos Direitos da Criança (Andi), são os responsáveis pela blitz nos principais pontos de concentração e tráfego de caminhões nos estados. Eles também estão encarregados de colher as assinaturas dos caminhoneiros.

De acordo com o diretor do Sest e do Senat, Antonio Fernando Costa Cardoso, o objetivo da blitz é colher assinaturas, no Brasil inteiro, para que o presidente da Confederação Nacional dos Transportes, Clésio Andrade, leve ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mostrando as ações da área. "O setor de transporte está pegando a Campanha sobre o Abuso Sexual de Crianças para dar um apoio irrestrito", afirmou Cardoso.

Na primeira blitz realizada hoje no Setor Terminal Rodoviário de Cargas, nas imediações do Aeroporto Internacional de Brasília, no Estádio Mané Garrincha e na Asa Norte, foram colhidas 200 assinaturas somente de caminhoneiros. "No dia 18 de maio, vamos fazer uma carreata, a partir do Estádio Mané Garrincha até o Palácio do Planalto e, nesse mesmo dia, o presidente da CNT levará ao presidente Lula um livro com essas assinaturas, colocando toda a máquina da CNT à disposição do governo para ajudar a acabar com esse problema", acrescentou.

Segundo Antonio Cardoso, os motoristas começam a ter consciência de que isso é um crime. Ele confirma que a CNI vai instruir os caminhoneiros para serem mais um veículo de comunicação e ajudar a Confederação a atacar o problema. "Como nós temos grande facilidade para adentrar no Brasil inteiro com os caminhões, vai ser um meio de a gente levar essa campanha", disse.

Na blitz conjunta realizada pela Polícia Civil e Polícia Rodoviária Federal, no Posto Zarzur Pacheco, km 13 da BR-060 (Brasília-Goiânia), o policial rodoviário federal José Martins Feitosa Filho, chefe do Núcleo de Policiamento e Fiscalização da região, explica que o problema da exploração sexual infantil existe com certa freqüência, principalmente com relação aos caminhoneiros. "Eles passam muito tempo viajando e as ocorrências são geralmente com esse pessoal". Feitosa confirma que, ao longo dos anos, o número desse crime tem aumentado bastante em todas as rodovias de Brasília. Dependendo do crime, a Polícia Rodoviária Federal encaminha as crianças para a Delegacia da Criança e do Adolescente ou para o Juizado de Menores.