J. Borges mostra sua arte na exposição ''Do cordel à xilogravura''

06/04/2004 - 17h06

Brasília, 6/4/2004 (Agência Brasil - ABr) - Ele só freqüentou a escola por dez meses, quando tinha 13 anos de idade. J. Borges aprendeu mesmo a ler foi com os livrinhos de literatura de cordel. Hoje, aos 58 anos, o escritor e artista plástico mostra um pouco do seu trabalho na exposição "Do cordel à xilogravura", que pode ser conferida no Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília, até o dia 16 de maio. A entrada é franca.

Ele nasceu e foi criado num sítio, no município de Bezerros, que fica no agreste pernambucano. Filho de agricultores, conheceu cedo o trabalho no campo, onde a energia elétrica ainda não havia chegado. Nas típicas feiras nordestinas, teve contato com o cordel, arte que chegou ao Brasil junto com os europeus. "Foi a minha primeira diversão. Não tinha rádio, TV, nada", lembra o artista.

E a mostra se transformou justamente numa feira. Os trabalhos de J. Borges estão expostos em barraquinhas juntamente com pingas, sementes, bonecos de bumba-meu-boi, incensos, defumadores e ervas medicinais. As cores são vivas e o som é o repente. O visitante é convidado a sentir um pouquinho do Nordeste brasileiro em plena capital federal.

Após começar a escrever suas primeiras histórias, Borges sentiu necessidade de ilustrá-las e assim pôs-se a desenhar e a fazer xilogravuras. "Virei poeta, escritor de literatura e, pela necessidade de ilustrar a mesma, virei xilógrafo-gravador", conta. Em "Do cordel à xilogravura", 100 xilografias do artistas e 50 cordéis poderão ser vistos. Um ateliê também foi montado e J. Borges estará trabalhando das 10h às 21h. "Vou riscar, desenhar e imprimir para o povo ver e perguntar", anima-se o artista.

Escrito em 1967, "A Mulher que Vendeu o Cabelo e Foi para o Inferno" foi seu livreto que mais vendeu. Em 60 dias, 40 mil exemplares foram comprados e, hoje, mais de 100 mil já foram lidos. Borges se diverte ao lembrar do episódio de "A Perna Cabeluda", do escritor José Soares, também pernambucano. "Inventaram essa história, de que tinha uma perna cabeluda andando pela cidade e até a televisão chegou a noticiar", recorda. É claro que o caso virou literatura de cordel porque, nesse gênero, tudo serve de inspiração. De casos políticos e fatos reais a lendas de lobisomem, tudo vira livro.

Borges conta que, antes da chegada da televisão, o cordel servia também como um "veículo jornalístico", já que o dia-a-dia da população era contado nas histórias. E um veículo de fofocas também. "Se um casal de vizinhos brigava, no dia seguinte José Soares escrevia o caso", lembra.

Mas os tempos áureos do cordel se passaram e hoje quase não há mais escritores e compradores dessa arte. "Apareceu muita coisa para divertir o povo, como filmes e videocassete", justifica Borges. Seu último livro, "O Casamento do Boiola" (2003), é uma comédia, como o nome sugere. Borges explica que, hoje, apenas as histórias engraçadas têm saída. "O povo não tem muito tempo, ele gosta de histórias pequenas e engraçadas", afirma.