Rio, 29/3/2004 (Agência Brasil - ABr) - A consolidação das estruturas democráticas para que os erros do passado não sejam repetidos, foi a avaliação comum dos participantes da primeira etapa do seminário "Olhar sobre 1964", realizado na Academia Brasileira de Letras (ABL).
O tema reuniu o deputado e ex-governador de Pernambuco, Miguel Arraes; o corregedor-geral da República e ex-governador da Bahia, Waldir Pires; o ex-senador Wilson Fadul, integrante do governo João Goulart; o presidente da Eletrobrás, Luiz Pinguelli Rosa, e o professor Otávio Dulci.
Waldir Pires disse que olhando 1964, 40 anos depois, fica a convicção do que foi feito de tão nocivo com a interrupção do desenvolvimento político do país, que começava a dar os primeiros passos para a cidadania com a incorporação das classes populares.
Waldir Pires relatou os últimos momentos do governo Jango, a sua saída de Brasília na companhia de Darci Ribeiro, até o exílio no Uruguai. O ministro declarou ter "certeza que encontraremos o caminho para construir uma sociedade decente e mais justa para a nossa terra".
O ex-senador Wilson Fadul detalhou o processo de dissolução da resistência ao golpe e relatou casos de bastidores, envolvendo a elevação de Castelo Branco a general pelo ex-presidente Juscelino Kubitschek, que viria a ser cassado depois por Castelo.
Para Wilson Fadul, é preciso resgatar a figura de Goulart político e a sua importância. Ele classificou o ex-presidente como um dos melhores oradores que o Brasil já teve.
O presidente da Eletrobrás, João Pinguelli Rosa, fez um parâmetro entre o neoliberalismo e o anticomunismo. Para ele é dever da sociedade construir uma alternativa para evitar o neoliberalismo, que está para os países da América Latina do mesmo modo que o anticomunismo estava para os governos que sofreram golpes na região.
O professor Otávio Dulci disse que o golpe militar não foi um fator econômico, mas um teatro político de muitos autores. Segundo ele, o golpe foi um episodio único, porque anulou qualquer possibilidade de reconciliação pelo enfrentamento destrutivo do lado perdedor. Disse ainda que o regime de 64 era modernizante e que na época duas propostas modernizantes entraram em choque e prevaleceu a proposta de modernidade empresarial. "Foi um golpe empresarial - militar", afirmou.