Brasília, 29/3/2004 (Agência Brasil - ABr) - O fenômeno que atingiu o litoral de Santa Catarina na madrugada do último domingo foi o ciclone extratropical. De acordo com a nota técnica divulgada em conjunto pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o ciclone apresenta temperaturas baixas no seu interior e ventos girando no mesmo sentido desde a superfície até os altos níveis.
A partir do momento em que apareceu o olho do ciclone e as bandas de nuvens em rotação, surgiu a especulação de que poderia ser um furacão. O processo de formação do furacão é diferente do processo observado no sul. A nota explica que na sua fase final, o sistema perdeu seu núcleo frio e passou a apresentar rotação no sentido contrário em altos níveis. Este comportamento é próprio de ciclone com características híbridas. A nota técnica afirma que o fenômeno será estudado e analisado com maior profundidade pelas equipes dos Centros Meteorológicos.
A nota explica que o furacão é um fenômeno que se forma nas águas quentes dos oceanos tropicais, apresentando temperaturas altas no seu interior e ventos girando em sentidos opostos nos níveis próximos à superfície e em níveis altos, ou seja, cerca de 12 km de altura.
Monitoramento
O ciclone observado durante o fim de semana na costa de Santa Catarina e norte do Rio Grande do Sul foi acompanhado pelos Centros Meteorológicos desde o dia 24, quando uma pequena área de instabilidade atmosférica formou-se a cerca de 1000 km da costa de Santa Catarina, começando a configurar-se com uma circulação ciclônica.
Inicialmente as nuvens na imagem de satélite tinham o formato de uma vírgula invertida com muita chuva. Os ventos já começavam a ter um giro no sentido dos ponteiros do relógio, típico de um ciclone. Gradualmente as nuvens passaram a adquirir o formato circular e na tarde da quinta-feira já aparecia o "olho", ou seja, uma região sem nuvens.
Durante a sexta-feira o ciclone passou a intensificar-se e deslocar-se a 20 km/h aproximadamente na direção do continente. Ventos medidos nas proximidades por navios chegavam a 70-90 km/h. As previsões numéricas indicavam que o ciclone continuaria em direção à costa da Região Sul do país com uma incerteza em relação ao local onde haveria o impacto maior.
Os primeiros alertas para a Defesa Civil Nacional foram emitidos na noite da sexta-feira. Durante o sábado, as imagens de satélite indicavam que as nuvens do ciclone estavam perdendo força e os ventos no mar indicavam velocidades moderadas de aproximadamente 60 km/h. O alerta foi mantido. As previsões indicavam o enfraquecimento do ciclone, porém com a ressalva que ao atingir a região costeira poderia ocorrer intensificação localizada. A região a ser atingida seria desde Florianópolis até o norte do Rio Grande do Sul.
Durante a noite do sábado as primeiras bandas de nuvens atingiram a costa e ocorreu intensificação do sistema na região da Serra Geral Gaúcha e Catarinense. Os ventos do ciclone ao atingirem a Serra Geral induziram a intensificação das nuvens que por sua vez favoreceram a ocorrência de ventos fortes em várias localidades.
Entre a noite de sábado e a madrugada de domingo o ciclone atingiu o continente, particularmente nas áreas entre o sul de Santa Catarina e nordeste do Rio Grande do Sul, entre Criciúma e Torres. Durante esse período foram observados ventos e chuvas fortes. Pelos danos provocados pode-se inferir que os ventos chegaram a atingir 150 km/h. No decorrer do domingo as chuvas persistiram sobre as serras gaúchas e catarinenses e o ciclone foi perdendo intensidade gradualmente.