Aldo Arantes: "Era um desabrochar da sociedade, e eles tinham medo"

29/03/2004 - 20h08

Brasília, 29/3/2004 (Agência Brasil - ABr) - Com a formação política nascida entre estudantes, operários e camponeses, o goiano Aldo Arantes, 63, é hoje responsável por um setor do governo federal que, segundo ele, une as pontas de sua história de militância, o Proep, Programa de Expansão do Ensino Profissional, do Ministério da Educação.

Foi presidente da União Nacional dos Estudantes entre 1961 e 62, quando se consolidou o projeto dos Centros Populares de Cultura. Também participou à época da UNE Volante, caravana que unia eventos culturais e a mobilização pela reforma universitária por todo o Brasil - espalhando "comunismo" pelo país, como ele lembra que o jornal ‘O Globo’ analisava.

Com a ameaça de golpe militar à época da posse de João Goulart, participou das mobilizações da Rede da Legalidade, junto com o então governador Leonel Brizola. Militou na Juventude Universitária Católica (JUC) e depois na Ação Popular (AP). Nos anos 70, filia-se ao Partido Comunista do Brasil (PC do B) e, após a redemocratização do país, cumpre quatro mandatos como deputado federal. Em depoimento à Agência Brasil, Arantes relembra seu período de militância na UNE, o envolvimento com a luta pela reforma agrária e faz uma análise política do período. Leia a seguir os principais trechos da conversa, concedida em seu gabinete no MEC.

Golpe!

"Eu era ex-presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) e trabalhava aqui em Brasília na Superintendência da Política de Reforma Agrária. No momento em que o Congresso Nacional decidia reconhecer, de forma ilegítima, que o presidente da República não estava na capital federal e com isso se declarava vago o cargo, eu estava nas galerias do Congresso Nacional. Eu protestei veementemente contra o golpe, gritei, nas galerias do Congresso, ‘Golpe, golpe!!!’.

Alguns parlamentares, entre os quais Almino Affonso e Plínio de Arruda Sampaio, articularam com a segurança da Câmara pra que eu não fosse preso. Eu consegui sair, fui para o interior de Goiás e fiquei durante um bom tempo. Aí, por volta de junho, ou julho, fui para o Uruguai, juntamente com Betinho, o Herbert José de Souza, que atuava comigo no grupo estudantil".

Influência cubana

"Tudo isso vem em conseqüência de um processo de ascenso do movimento popular. O golpe militar se dá pouco depois da revolução cubana, havia um clima na América Latina de apoio a Cuba, as idéias libertarias, as idéias revolucionárias e, evidentemente, uma ofensiva muito grande dos americanos para conter esse processo. O dinheiro americano colocou em ação, na América Latina, a Aliança para o Progresso, na tentativa de conter os movimentos sociais.

Naquela época, havia um crescimento dos movimentos sociais, não só o movimento estudantil, das lutas pelas reformas de base, reformas em geral, mas a luta do movimento estudantil pela reforma universitária, a luta do movimento camponês pela reforma agrária, com as Ligas Camponesas, a luta pela soberania nacional. Se discutia e se aprovou o projeto de lei da regulamentação da remessa de lucros, houve o processo de nacionalização das empresas de petróleo, uma série de medidas que afirmavam o projeto nacional de desenvolvimento.

Esse conjunto de fatores é que levou a uma articulação de forças internas e internacionais. As forças internas eram fundamentalmente os grandes empresários ligados ao capital estrangeiro, além dos grandes fazendeiros e de um segmento da classe média muito influenciado por uma certa visão de que esse governo ia levar a uma república sindicalista.
Houve uma grande mobilização, grandes passeatas, como a Marcha com Deus pela Liberdade, do chamado Padre Peyton, que mobilizou setores importantes da sociedade em particular da classe média e dos setores de elite da sociedade, tudo isso terminou redundando no golpe militar de 64.

Não havia uma solidez de apoio político ao governo do presidente João Goulart e muito menos solidez do ponto de vista do apoio militar. De tal maneira que vários setores de esquerda não imaginavam a possibilidade do golpe, e o movimento social não estava preparado para enfrentá-lo. A resistência existiu, mas foi muito limitada e, quando vem o golpe militar, vem com todas as medidas compatíveis com as razões que a determinaram, a paralisia no processo de reforma agrária, o problema da lei de garantia de investimentos estrangeiros, a extinção da estabilidade no emprego, com a criação com o fundo de garantia, enfim, uma série de medidas contrárias aos interesses nacionais e do povo brasileiro".

Nas universidades

"Nessa época, a minha participação mais direta era no movimento estudantil, era a luta pela reforma universitária. O movimento estudantil lutava pela participação de um terço dos estudantes nos órgãos colegiados, e isso mobilizou bastante a sociedade e os estudantes. Nós tínhamos, na verdade, realizado um seminário de reforma universitária que projetou o eixo da luta pela reforma universitária, ou seja, combinava a luta geral do Brasil pela soberania nacional, pela independência, por um projeto nacional de desenvolvimento, com a luta específica dos estudantes pela reforma universitária, pelo processo de modernização da universidade brasileira e da adequação das instituições à realidade do país, e, por outro lado, a luta pela reestruturação do poder na universidade com a participação de um terço dos estudantes nos órgãos colegiados.

Com o seminário, decidimos realizar a chamada UNE Volante, uma caravana bastante expressiva com lideranças estudantis e membros do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (UNE), com Oduvaldo Vianna Filho, Francisco Milani, que participaram desse processo todo. Percorremos o Brasil inteiro, do Rio Grande do Sul até o Amazonas, no processo de mobilização em torno da reforma universitária e em torno do problema da luta dos interesses nacionais.

Havia a realização de assembléias gerais, discussão sobre a questão da reforma universitária, apresentações de peças teatrais e do filme ‘Cinco Vezes Favela’, que foi produzido pela UNE. Houve uma atividade política e cultural que mobilizou amplamente a sociedade, os grandes jornais da época. O jornal ‘O Globo’ dizia que a UNE estava ‘levando o comunismo pelo Brasil’. A caravana tinha cerca de 30 pessoas, saiu de avião do Rio Grande do Sul e visitou quase todas as capitais brasileiras. Na realidade, foi um grande movimento, com repercussão nacional.

Quando a UNE Volante ia caminhando pelos estados do Nordeste, a repercussão já era muito grande. A UNE era recebida por uma grande quantidade de estudantes, demonstrando um fator político de grande relevância, não só nessas cidades, mas em todo o país".

Um presidente na UNE

"É importante dizer que a participação política da UNE faz parte da tradição do movimento estudantil, tanto que, na tentativa de golpe, durante a posse do presidente João Goulart, a entidade se mobilizou. Em certo sentido, o início do processo de luta política, do próprio golpe, já estava germinando na tentativa de impedir a posse do presidente João Goulart. Na época, eu era presidente da UNE, houve uma grande mobilização nacional dos estudantes na luta pela legalidade, com a resistência do Brizola no Rio Grande do Sul.

A greve nacional dos estudantes em defesa da legalidade levou o presidente João Goulart à sede da UNE. Foi a primeira vez, aliás, a única vez que um presidente da República esteve na sede da União Nacional dos Estudantes: o presidente João Goulart, com todo o seu ministério e com o primeiro-ministro que, na época, era Tancredo Neves. Foi um fato de grande relevância, mas que era indicativo de uma tentativa das forças conservadoras de dar um golpe militar. Eles iniciaram e desenvolveram, no curso do governo João Goulart, com a representação de empresários nacionais ligados ao capital multinacional, da embaixada americana, uma articulação que terminou no movimento político que procurou dar base ao golpe militar e ao próprio golpe militar, com os resultados que a gente pôde ver".

Reformas limitadas

"Criou-se um clima em torno do problema da revolução cubana e da mobilização popular. As reformas tinham um caráter limitado. A reforma agrária era a reforma nas terras em torno das rodovias, a luta em defesa da soberania nacional também era limitada. No entanto, naquele momento, certamente relacionado com a questão do receio do crescimento das forças de oposição que os americanos diziam existir, o crescimento do comunismo no mundo, certamente, foi um fator importante. Tanto assim, que levou o presidente John Kennedy a lançar a ‘Aliança para o Progresso’, inclusive no Nordeste, onde as ligas camponesas se desenvolviam amplamente.

Não que as reformas fossem radicais, mas as classes dominantes e o imperialismo norte-americano não admitiam qualquer tipo de alteração, qualquer tipo de reforma no Brasil, por mais restritas que elas fossem. Sobretudo, na medida em que essas reformas estavam acopladas ao amplo movimento de mobilização da sociedade. Na verdade, eles tinham medo de que aquilo ganhasse envergadura e pudesse caminhar para reformas mais profundas e mais estruturais".

Luta no campo

"Naquela época, existiam as Ligas Camponesas, uma espécie de movimento de luta pela reforma agrária. Era a reforma agrária radical, liderada por Francisco Julião, que atuava principalmente no Nordeste. Durante o governo do presidente João Goulart, foi iniciado um processo de sindicalização rural, fruto de um convênio feito pelo Ministério do Trabalho, cujo ministro era Almino Affonso, e a Superintendência da Política da Reforma Agrária (Supra). Ao lado do trabalho que era realizado pelas ligas, que nessa época começavam a perder um pouco a força, começou um processo de luta pela sindicalização rural. O que ocorre é que o processo de aguçamento da luta de classe no campo levou à organização dos latifundiários, que se armaram, de forma semelhante ao que aconteceu mais recentemente com a União Democrática Ruralista (UDR). Não se criou um movimento nacional como se criou com a UDR, mas um movimento semelhante, de organização de milícias armadas para conter o avanço pela reforma agrária".

Ação Popular

"Nós éramos da Ação Popular - eu e o José Serra - e, na realidade, durante muitos anos o grupo teve controle do movimento estudantil e da UNE. Primeiro fui eu, depois o Vinícius Caldeira Brant e, em seguida, o Serra: éramos todos membros da Ação Popular naquela época. Nós tínhamos, não só, com relação à política, cuja base era exatamente de concepção da Ação Popular, como tínhamos uma relação pessoal que se mantém até hoje. Hoje em dia, temos opiniões políticas diferentes, mas mantemos uma relação de amizade e fraternidade que vem desde aquela época".

Radicalização

"Num primeiro momento, não se tinha exata idéia da dimensão do golpe. Se imaginava que o golpe tivesse um caráter mais passageiro, como tinham tido outros golpes na América Latina. No entanto, o golpe veio pra ficar, e não só no primeiro momento. Se tentou dar continuidade à luta, mais ou menos nos termos anteriores, como foi a luta de mobilização popular. Foi criado o Movimento de Luta contra a Ditadura (MCD). A UNE fazia grandes manifestações, houve a Passeata dos 100 mil no Rio de Janeiro (26 de junho de 1968), houve manifestações pelo Brasil inteiro. Esse crescente da luta contra a ditadura militar terminou colocando na ordem do dia o Ato Institucional n° 5.

O AI-5 é o golpe dentro do golpe, exatamente uma radicalização, transformando a tortura, a violência e o assassinato, que já ocorriam, em método de governo. Aí há o processo de radicalização e de desenvolvimento, de forma mais ampla, da resistência armada. Muitos setores consideravam que, a partir dessa situação, você não poderia mais atuar de forma institucional, política.

A UNE, que já estava na ilegalidade, se torna uma entidade clandestina. Os sindicatos, as entidades sociais perdem as condições de atuar. O espaço da luta política ficou absolutamente comprimido, não havia possibilidade, então isso fez com que outros setores importantes, particularmente da juventude, optassem pela luta armada. No caso da Ação Popular, nós tínhamos uma concepção que combinava a questão da luta armada com a luta legal, a luta de massas. Considerávamos que a luta armada deveria ser parte de um processo mais abrangente de mobilização da sociedade, tanto assim que nós sempre estivemos presentes na UNE, mesmo no período da clandestinidade.

Quem dirigia a UNE era a Ação Popular. É claro que posteriormente ela terminou, a própria Ação popular evoluiu para se incorporar ao partido Comunista do Brasil (PC do B), mas nesse período ainda existia e era a entidade que dirigia a UNE, dirigia parcelas importantes do movimento camponês, por exemplo, em Pernambuco e no Maranhão, também tinha presença no movimento operário, particularmente em São Paulo. Era uma organização política revolucionaria, mas que dava ênfase a um trabalho de mobilização política".

Comunismo no poder

"Há uma certa recuperação, eu também acho que é como se nós tivéssemos tido um corte, e a gente volta a viver uma nova época - é claro que em novas condições, porque o processo de globalização traz um condicionamento muito forte. O governo Lula sem dúvida representa um governo de mudanças, um governo em que um trabalhador e a esquerda assumem o governo no país. Não o poder como tal, mas o governo, com a participação inclusive do PCdoB em dois ministérios, esse é um fato inusitado na historia política brasileira, nunca um comunista teve o governo no país.

A esquerda não pode se dar ao luxo do que ocorreu no governo João Goulart, com uma desesperança e uma falta de apoio ao governo. Acho que é necessária a mobilização da sociedade pelas mudanças, a mobilização pelo desenvolvimento já. Pelo emprego, como sendo peça fundamental numa nova política de desenvolvimento do país. A sociedade tem de se mobilizar, nós queremos lutar dentro do governo. Mas, queremos lutar fora do governo, com a sociedade, para pressionar, como se pressiona um amigo, um irmão, uma pessoa da família. O governo brasileiro ainda sofre pressões poderosas do governo norte-americano, do sistema financeiro e da grande mídia. É necessário, exatamente, que haja essa ‘contrapressão’, para que o governo se sinta apoiado para fazer essas mudanças, que eu considero absolutamente indispensáveis".

Golpes atuais

"Eu não penso que o golpe do Haiti e a tentativa de golpe na Venezuela sejam similares a 64. É um momento diferente. Existem condicionais e particularidades, o que predomina hoje na América Latina é a manutenção da estabilidade política dentro dos marcos do neoliberalismo. Não há razões que pudessem justificar uma política golpista. A sociedade também é mais exigente contra uma política golpista. É claro que há situações especificas. Nesse caso, o Haiti é mais uma coisa tópica. Mesmo na Venezuela, apesar de haver uma forte mobilização, é muito pela política do Chaves, a sociedade venezuelana não aceitou o golpe até agora. Resistiu, foi para as ruas, tem apoiado o governo. Essa coisa não está presente na América Latina nos moldes que estava na década de 60.

A América Latina estava um pouco num caldeirão. Inspirada numa experiência concreta, que era a cubana. Aquilo foi igual a um dominó, um golpe atrás do outro. E todos dentro de um mesmo contexto. Era o contexto de conter, digamos assim, o avanço da luta popular na América Latina".

Sem o Golpe

"É difícil saber o que teria ocorrido se não tivesse acontecido o golpe. Aconteceu porque tinha uma série de fatores internacionais e internos que conduziram a isso. Mas, imagino que o Brasil teria progredido tremendamente, porque a situação em que o país vivia durante o governo do presidente João Goulart, era um desabrochar.

Eu nunca vivi um momento da história do Brasil com a sociedade tendo uma auto-estima tão alta. Com a criatividade tão elevada, com a alegria tão grande. Aquilo ali, num país nas dimensões do Brasil... Era um povo unido querendo mudar, transformar. Nós poderíamos ter chegado a um estágio completamente diferente do que estamos hoje em dia. Um dos problemas graves da sociedade é exatamente a incapacidade dos governantes de ver o potencial brasileiro.

O Brasil é uma potência, tem uma grande população, riquezas minerais, um parque industrial relativamente desenvolvido. Hoje, o Brasil deveria estar num patamar muito mais elevado, mas a falta de consciência por parte das nossas elites da necessidade de um projeto nacional de desenvolvimento, e a dependência até mental, cultural, é o que faz com que a gente fique marcando passo. Outros países como a China estão avançando tremendamente. A própria Índia e a África do Sul... Nós necessitamos conter essas amarras, essas limitações que têm imposto um modelo de desenvolvimento ao país que não faz jus ao tamanho, as dimensões e a grandeza do nosso país. Nós temos que dar uma virada nisso para correspondermos ao potencial do Brasil e à aspiração de mudança do povo brasileiro".

Depois do Golpe

"Depois do golpe, eu saí junto com o Betinho (o sociólogo Herbert de Souza) e a minha esposa para o Uruguai. Fiquei lá um ano, onde nasceu meu primeiro filho, que é uruguaio. Eu voltei para a reorganização da Ação Popular, para fazer parte da resistência ao regime militar. Vivi onze anos na clandestinidade. Fui preso quando estava no Nordeste brasileiro, em Alagoas, no interior. Eu estava fazendo um trabalho com os camponeses e fui preso em 1968, passei seis meses na prisão. Terminei fugindo da prisão de Maceió, voltei para a clandestinidade, em 1972.

A Ação Popular se incorporou ao PC do B e, em 1976, fui preso novamente na famosa Queda da Lapa, onde foram assassinados três companheiros nossos. A partir daí, fiquei preso mais dois anos e oito meses. Saí com a Anistia e, posteriormente, voltei para o meu estado natal, que é Goiás. Fui candidato a deputado federal e exerci até agora quatro mandatos, tendo sido constituinte em 1986".

Resistência no campo

"Naquele período, a atitude do governo era de repressão a todos os movimentos sociais, inclusive ao movimento camponês. Tinha um gérmen de uma organização social, um sindicato de trabalhadores rurais que foi reprimido. Vivíamos na clandestinidade, em uma cidade chamada Pariconha, na época um distrito de Água Branca. Hoje, é emancipada. Eu vivia lá com minha esposa, com meus filhos pequenos, com nome frio, era Roberto. Nós fazíamos um trabalho junto ao sindicato dos trabalhadores rurais e tínhamos uma escola de formação de camponeses. Acharam que havia um movimento suspeito por lá, e a repressão baixou e nos prendeu. Foi uma reação muito violenta. Eles desencadearam uma operação do Exército. Criaram um terror tremendo na região, uma repressão muito grande no sentido de tentar, digamos, contem aquele gérmen que agente havia implantado ali".

Cenas

"Eu não estava lá no incêndio da UNE. Foi algo que vivi de longe, estava em Brasília. Foi algo muito traumático. Aquilo simbolizou, na verdade, a derrota. Aquela cena, a sede da UNE sendo queimada, era exatamente a derrota de um projeto político para o Brasil, um projeto transformador. É claro que todas as pessoas que estavam engajadas naquele projeto sentiram profundamente.

Se não bastasse isso, é importante lembrar que a sede da UNE foi destruída. Apesar de queimada, ela continuou como um símbolo para a juventude e o povo brasileiro. Era chamada na época de ‘A Casa da Resistência Democrática’. A existência pura e simples dessa casa incomodava os militares. Eles, num determinado momento, mandaram destruir a sede da UNE para não ficar vestígio nenhum. Foi uma barbaridade".

Movimento estudantil

"Eles tinham medo das idéias que o movimento estudantil e a UNE levavam ao povo brasileiro, e particularmente para a juventude. Tentaram esvaziar a juventude logo depois do golpe militar. Diziam que o dever do estudante era estudar e do trabalhador era trabalhar. No sentido de despolitizar a sociedade. Mas, o movimento estudantil nunca se submeteu a isso, enfrentou momentos de grandes dificuldades e progressivamente foi se reorganizando.

Hoje, o movimento estudantil está aí novamente. A UNE, a Ubes, as entidades. Estão jogando o papel, é claro que em situações novas, diferentes. Mas jogando o papel que, historicamente, a juventude brasileira sempre jogou. O papel de livre arbítrio, de luta pela democracia, de luta pela reforma agrária, pela soberania nacional e de mobilização da sociedade e dos estudantes para mudar esse país. Infelizmente, nós ainda necessitamos de mudanças que são fundamentais, e essas mudanças só podem vir com a mobilização da sociedade e com a participação destacada dos estudantes".