Nélson Motta
Repórter da Agência Brasil
Cidade Ocidental (GO) - O desempregado Edivaldo Araújo - que na terça-feira ameaçou pular sobre a tribuna do Senado e foi convencido pelo presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), a desistir da idéia - prestou queixa na delegacia na sexta-feira por volta das 12 horas. Afirmou que foi vítima de socos e queimaduras e que ficou preso por um dia e meio em uma casa a aproximadamente 15 quilômetros de Brasília. Acusa três homens, que o teriam seqüestrado na rodoviária de Brasília, em um veículo Blazer de cor preta, depois de ter saído do Senado. Araújo também se submeteu, na sexta-feira, a exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal, cujo resultado deve sair em oito dias.
Ele conta que, depois de ter sido deixado na rodoviária de Brasília, por seguranças do Senado, foi chamado, pelo nome, por passageiros da Blazer, vestidos de terno, e convidado a ser levado para a sua casa na Cidade Ocidental (GO), município do entorno de Brasília. Disse ter aceitado o convite, mas que o carro não foi em direção à sua residência, mas sim à outra região de Brasília, onde está situada a casa em que, garante, teria ficado sob cárcere privado.
Durante as horas em que teria permanecido como prisioneiro, Edivaldo assegura que foi aconselhado a manter-se calado. Afirmou, também, que os homens pegaram a sua carteira, em que estavam R$ 240 (coletados entre senadores no dia 16), e que, quando lhe devolveram, só havia uma cédula de R$ 50. Detalhou que em uma oportunidade em que foi usar o banheiro da casa, onde era mantido preso, demorou um pouco. Em seguida, um dos homens chegou com um cigarro e largou nas suas pernas, provocando queimaduras. Araújo ressalta que deram a ele uma "marmita". Garante, ainda, que pode reconhecer os homens que o teriam mantido preso.
Na madrugada da quinta-feira, conta que foi deixado na cidade do Núcleo Bandeirante e que depois se dirigiu para casa. "Eu saí fora, não deu para ver a placa. Não deu para ver nada. Tudo foi muito rápido. Só cheguei em casa uma hora da manhã de quinta-feira", disse Edivaldo. Na quinta de manhã, foi procurado pela imprensa e decidiu prestar queixa na delegacia da Asa Norte (bairro onde está localizado o Senado Federal).
Araújo afirma que, desde então, não consegue dormir com medo de que ele ou a família sofra algum tipo de retaliação. A única proteção com que conta é um cachorro "pitbull", que, segundo Araújo, há muito tempo não se alimenta direito."Não estou acusando, mas pode ser que, por indignação, pelo fato do que eu fiz, os seguranças podem ter tomado alguma bronca, já que ali é um lugar que não é para acontecer isso, e, aí, eles resolveram se vingar dessa maneira", acrescentou. Afirmou também: fui com minha advogada no IML, e fiz o exame, agora espero que alguma providência seja tomada",concluiu.
O Diretor Geral do Senado, Agaciel Maia, procurado pela Agência Brasil, disse que foi informado do caso pela imprensa. Mas adiantou que haverá uma investigação por parte da segurança do Senado para esclarecer o assunto. "Eu mandei levar o Edivaldo para a rodoviária. Recomendei a ele (Edivaldo) que tirasse uma segunda via da carteira de identidade. Essa situação de ele ter sido levado por outro carro depois tem que ser investigada porque nós não temos carros de cor preta. Só branca e azul", afirmou Maia.
A denúncia feita por Araújo foi registrada em uma delegacia do Plano Piloto e vai ser investigada, também, pela Polícia Civil, tendo por base, além da queixa, o resultado do laudo realizado no Instituto Médico Legal (IML).