Ex-guerrilheira do Araguaia relembra a história do movimento

05/03/2004 - 10h42

Palmas (TO), 5/3/2004 (Agência Brasil - ABr) - Aos poucos, algumas versões, diferentes das apresentas à época do conflito entre guerrilheiros e forças militares do regime ditatorial, começam a ser recontadas.

A ex-guerrilheira Criméia Almeida, que abandonou o curso de Enfermagem, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, para enfrentar a selva amazônica, na região do Araguaia, desmente alguns mitos. Cita, por exemplo, que os combatentes do PcdoB eram aventureiros. Para ela, o movimento tinha uma perspectiva definida de preparar estudantes para a luta armada. "O local era favorável para treinar deslocamentos, a mobilidade, necessários neste tipo de movimento. Além disso, na região não havia estradas nem quartéis. O problema é que o Exército conseguiu fazer um cerco muito grande", relembra.

Criméia também desmistifica que a guerrilha recebia armas e dinheiro da China ou de qualquer lugar. Lembra que "trabalhava de sol-a-sol, plantando arroz, mandioca e feijão", que serviam para alimentar os companheiros e os excedentes ainda poderiam ser vendidos no comércio local. Aproveitava seus conhecimentos de Enfermagem e ajudava em partos na região ou a tratar doentes de malária. Raramente recebia dinheiro por isto, porém a troca era o auxílio de quem havia socorrido em forma de mutirões na sua roça. Sobre os armamentos usados pelos guerrilheiros, Criméia lembra que o mais potente era um fuzil de 1914. "No mais, eram revólveres e espingardas de caça, muito velhos".

Por esses motivos ela se sente mais que no direito de reclamar "esclarecimentos da verdade dos fatos". Se nega a acreditar que não existam arquivos oficiais da época. "Nenhum órgão público gasta tanto dinheiro, como aconteceu, sem ter registros. Esta também não foi uma experiência desprezível para o Exército Brasileiro, que iria jogar fora facilmente. No final de 1973, por exemplo, os soldados prenderam praticamente toda a população masculina de Xambioá. Isto teve ordens, documentos", denuncia, a ex-guerrilheira.

Para ela, ainda hoje a "União se nega em esclarecer os fatos", completa.