Imagens de satélite mostram a volta do verde na Bacia do rio Paraíba

17/02/2004 - 17h48

Brasília, 17/2/2004 (Agência Brasil - ABr) - A cobertura vegetal existente na parte inferior da Bacia do Rio Paraíba do Sul, no Norte e Noroeste Fluminense, aumentou 14% de 1986 a 2001, o que representa um acréscimo de 8.940 hectares ou 15 mil campos oficiais de futebol. A
conclusão é de pesquisadores do Laboratório de Ciências Ambientais (LCA) da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf), que analisaram imagens captadas pelo satélite Landsat. Segundo eles, boa parte da recuperação se deve à ação regeneradora da própria natureza, sobretudo onde antigos canaviais foram abandonados.

Mas o crescimento se restringe basicamente às florestas, uma vez que a vegetação de restinga e de mangue apresentou expressiva redução no mesmo período. Além disto, os fragmentos de mata remanescentes encontram-se, em geral, devastados em seu interior pelo corte seletivo de madeira.

Os dados estão descritos na monografia de bacharelado da graduanda Renata Ferreira, do curso de Ciências Biológicas. O estudo mostra que, em 1986, 6,8% dos 9.356 Km² que compõem a
parte inferior da Bacia do Paraíba (em território fluminense) estavam cobertos por vegetação arbustiva/arbórea. Em 2001, esse índice subiu para 7,8%. Renata credita o aumento da cobertura florestal ao fim do Pró-Álcool e à edição de leis ambientais mais severas. Mas chama a atenção para o fato de que muitos municípios, tais como Italva, Aperibé e São João da Barra, continuam totalmente desprovidos de florestas.

O término do Pró-Álcool levou ao declínio da indústria sucro-alcooleira e, conseqüentemente, ao abandono de grandes lavouras de cana-de-açúcar. O desmatamento das florestas em torno desses campos de plantação diminuiu e a vegetação começou a se restaurar. Leis ambientais mais severas, aliadas à crescente mobilização ambientalista, também ajudaram a diminuir as taxas de desmatamento - explica Renata.

Segundo ela, o que pôde ser observado na pesquisa de campo, em relação à restauração da cobertura florestal, é a presença de grupos de espécies de plantas em estágio inicial de sucessão ecológica e de espécies exóticas provenientes de campos abandonados, que encontraram condições favoráveis de sobrevivência e colonizaram as áreas de remanescentes florestais. Mas os fragmentos remanescentes encontram-se, em geral, devastados em seu interior pelo corte seletivo de madeira.

Já a vegetação dos manguezais, que em 1986 ocupava 790 hectares, diminui para 761 hectares em 2001 (queda de 3,6%), enquanto a vegetação de restinga caiu de 2.137 hectares para 1.857 hectares (13%) no mesmo período. Segundo Renata, entre as causas da diminuição da vegetação de mangue estão o corte seletivo de árvores para obtenção de lenha e madeira, devastação da área de mangue para implantação de pastos para criação extensiva de gado, lançamento de esgoto e lixo. No caso específico do mangue de Atafona, há ainda o problema da invasão de sedimentos marítimos, devido ao avanço do mar.

A destruição da vegetação de restinga, segundo Renata, está intimamente ligada a impactos que continuam a ocorrer na região, tais como utilização de vegetação nativa para pastagem, trânsito de automóveis na areia e remoção da vegetação nativa para a instalação de loteamentos urbanos.

Ela conclui pela necessidade e urgência de medidas de conservação e restauração dos ecossistemas. Entre outras propostas apresentadas, está a de estabelecer unidades de conservação para os manguezais da foz do Rio Paraíba e para o complexo lagunar das restingas de Iquipari-Grussaí e a de promover a restauração das matas ciliares, por meio da produção e beneficiamento de sementes, produção de mudas e implantação de florestas.

Fragmentos

A pesquisa mostra que, mesmo com o aumento total da área florestada, alguns fragmentos isolados ainda continuaram a perder área de vegetação em função das queimadas - naturais ou provocadas - e do corte seletivo de madeira clandestino. Os fragmentos de floresta de baixada, como as matas do Funil, de Bom Jesus, do Mergulhão e do Carvão, em geral, sofreram redução de área.

A mata do Funil, por exemplo, perdeu 3% de sua área de vegetação de 1986 a 2001. Já a Mata de Bom Jesus perdeu cerca de 4,5% de área no mesmo período. A situação mais crítica, segundo Renata, é a da mata do Mergulhão, que sofreu uma redução de 21% em sua vegetação. "É uma perda considerável, pois este fragmento já apresenta tamanho bem reduzido", afirma.

A taxa de redução também não é a mesma para todos os anos entre 1986 e 2001. Na mata do Carvão, por exemplo, foi detectada a maior taxa de desmatamento para a região, no período de 1986-1988. (Ascom Uenf)

Gráficos mostram a redução da área de manguezal na foz do Paraíba do Sul
(mancha marrom). O quadro superior corresponde ao cenário de 1986; o inferior
mostra a situação de 2001.