Globalização ainda não trouxe a prometida convergência de riquezas, afirma Lula

16/02/2004 - 18h59

Brasília, 16/2/2004 (Agência Brasil - ABr) - Em discurso durante 5ª Conferência Anual da Rede de Parlamentares sobre o Banco Mundial, realizada no Senado da França, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o desafio do século XXI é fazer do combate à extrema pobreza a mola propulsora do crescimento e não apenas a sua conseqüência. A afirmação foi feita hoje por meio de vídeo-conferência.

O presidente afirmou que a desigualdade é sempre medida por padrões econômicos, mas são necessárias decisões políticas para superá-las. Segundo ele, a fome e a miséria e a miséria não são situações imutáveis ou irremediáveis. "Acreditamos que os recursos financeiros para combatê-la podem ser obtidos, uma vez mobilizada a necesária vontade política", considera.

Em seu discurso o presidente coloca que a globalização não trouxe até hoje a "prometida convergência da riqueza". Segundo ele, os desequilíbrios históricos têm se agravado e as distorções comerciais e financeiras continuam a drenar o mundo da escassez para irrigar o mundo da riqueza. "O planeta tem recursos e tecnologia suficientes para possibilitar vida digna ao dobro da sua população. Se a fronteira da igualdade parece mais distante hoje do que ontem, isto não se deve a escassez. Mas à incapacidade de repartirmos aquilo que produzimos", ressaltou.

Ele pediu que as Metas do Milênio tenham prioridade na agenda internacional para romper uma "teia de carências básicas e exclusão social" em que vivem, de acordo com o presidente, um bilhão e trezentos milhões de pessoas.

O presidente mencionou ainda a criação de um grupo técnico acertada em janeiro em Genebra entre Lula e os presidentes da França Jaques Chirac e do Chile, Ricardo Lagos, além do Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan. O grupo vai analisar propostas inovadoras de financiamento e examinar mecanismos que possam canalizar possíveis recursos adicionais para um fundo especial de combate a fome. "Esperamos, com esse chamado e com essas propostas, ampliar a abrangência dos debates em curso, equilibrando a agenda internacional, hoje excessivamente concentrada em temas relativos a questões de segurança", destacou.

Lula falou também sobre o Fome Zero, a unificação dos programas de transferência de renda e a implantação do Bolsa Família, que atendem uma parte da população carente brasileira. O presidente disse que até o final do governo o Bolsa Família, que atende mais de 3,6 milhões de famílias, vai beneficiar 11 milhões de famílias, ou cerca de 50 milhões de pessoas.

O presidente finalizou seu discurso pedindo que seja construída uma ponte entre os mundos pobres e ricos. "O déficit social dos países pobres e em desenvolvimento requer a participação de todos vocês. Só assim o combate à exclusão vai gerar oportunidades, e não mais dependência", afirmou.