Insetos ajudam a desvendar crimes

13/02/2004 - 19h13

Brasília, 13/2/2004 (Agência Brasil - ABr) - A análise do estágio evolutivo dos insetos que se alimentam de corpos em decomposição pode ajudar a desvendar crimes. Chamado de entomologia forense, esse tipo de estudo é feito na Universidade de Brasília (UnB) pela equipe do Centro Nacional de Entomologia Forense (CNEF), inaugurado ontem (12). Os pesquisadores que se dedicam ao tema terão a parceria do ministério da Justiça e do Instituto de Criminalística da Polícia do Distrito Federal. Há ainda a possibilidade de fechar um convênio com o King’s College, a universidade de Londres, uma das escolas de ponta na área. O pesquisador inglês Bryan Turner esteve na UnB nesta semana onde falou aos participantes do XXV Congresso Brasileiro de Zoologia, evento que terminou hoje.

Em sua palestra, Turner contou à platéia como se deu o primeiro caso registrado de entomologia forense no mundo, ocorrido no século XIII, na China, quando o assassino responsável por um homicídio no campo foi apontado pelas moscas que pousaram em sua foice. "As moscas são fantásticas. Elas possuem estruturas na parte de trás que, quando contadas, indicam a idade do animal", explica. A partir desse dado, a data em que aconteceu o crime pode ser estimada.

A análise moscas, aliás, pode fornecer dados essenciais para elucidar um crime, até mesmo algum material genético do criminoso. O professor de dipterologia (estudo de moscas) da UnB, José Roberto Pujol, lembrou que, embora só peritos criminais tenham acesso à cena do crime, a equipe do CNEF poderá orientar o trabalho da polícia e contribuir no exame de moscas e besouros encontrados em cadáveres, por exemplo. O centro funciona desde dezembro na universidade e começou como uma extensão do laboratório de dipterologia. Segundo Pujol, o centro vai colaborar para ampliação das possibilidades de pesquisa e formação de quadros qualificados na área. "É um exercício formar um conceito de cidadania no país para contribuir na área criminalística", afirma.

Já o primeiro caso avaliado pelo CNEF foi a análise de uma árvore que caiu sobre um Corsa, em Brasília, em setembro do ano passado. Ficaram presas no carro a proprietária e sua filha. O laboratório da UnB foi contatado para descobrir se a árvore caiu por descuido do poder público ou por outro motivo. A equipe encontrou, no tronco caído, grande número de larvas de besouro. Ao pesquisar a evidência, os pesquisadores descobriram que uma das principais características dessas larvas é o consumo de madeira viva, o que pode ter provocado a queda da árvore. "O resultado da ação cabe ao Ministério Público. Apenas contribuímos para identificar a causa provável do problema", explica Pujol.

Da UnB Agência