Brasília, 23/1/2004 (Agência Brasil - ABr) - O desemprego aumentou em 2003 e atingiu 185,9 milhões de trabalhadores no mundo, marca histórica que representa 6,2% da mão-de-obra, de acordo com números apresentados pelo informe Tendências Mundiais de Emprego – 2004, divulgados ontem pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Embora seja o maior índice já registrado, a elevação foi pequena em relação aos dados recolhidos em 2002. Naquele ano, o número de pessoas sem emprego chegou a 185,4 milhões.
Entre os que perderam uma vaga no mercado de trabalho, 108,1 milhões são homens, 600 mil a mais que em 2002. Entre as mulheres foi verificada uma leve redução, passando de 77,9 milhões em 2002 para 77,8 milhões em 2003. Os mais prejudicados foram os 88,2 milhões de jovens com idades entre 15 e 24 anos, que representam 14,4% da taxa de desemprego do ano passado.
Embora a economia informal, representada por pessoas sem emprego fixo, continue aumentando em países que registraram baixas taxas de crescimento do PIB, o número de trabalhadores pobres (pessoas que vivem com menos de um dólar por dia), se manteve estável em 2003, estimado em 550 milhões.
Apesar dos números, otimismo
A OIT também divulgou prognósticos otimistas em seu informe. Os dados apontam que a acentuada recuperação econômica no segundo semestre de 2003 permitiu a queda nos índices de desemprego e, caso continue desta forma, produzirá melhores resultados este ano.
O diretor-geral da OIT, Juan Somavia, afirmou que ainda é muito cedo para dizer que o pior já passou. Mas, os índices de desemprego poderão apresentar melhoras em 2004, se as estimativas sobre o crescimento global e a demanda nacional se mantiverem ou aumentarem os seus níveis atuais.
"Nossa maior preocupação é a recuperação mostrar sinais de queda e as esperanças de melhores empregos serem postergadas. Assim, muitos países não poderiam reduzir a pobreza à metade até 2015 para cumprir com os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). No entanto, podemos reverter esta tendência e reduzir a pobreza, se os formuladores de políticas priorizarem o mercado de trabalho como o foco das estratégias macroeconômicas e sociais", afirmou Somavia.
Panorama regional
O informe da OIT explica que o aumento do desemprego e subemprego no primeiro semestre de 2003 foi causado pela lenta recuperação das economias de países industrializados, pela repercussão da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) - a chamada gripe asiática - e pelos efeitos dos conflitos armados, estes últimos afetando principalmente o setor de turismo e viagens.
Quando o surto de SARS foi controlado e consolidou-se o crescimento do PIB no segundo semestre, os índices de emprego também se recuperaram. Quanto ao crescimento econômico global em 2004, o informe da OIT é otimista e estima que a crescente demanda nos países industrializados, o aumento do comércio e um crescimento paralelo na demanda interna poderão melhorar a situação do emprego.
As regiões industrializadas registraram recuperação, especialmente durante o segundo semestre de 2003, em relação à recessão econômica vivida nos dois anos anteriores. O crescimento do PIB dos Estados Unidos foi ofuscado pela escassa criação de empregos e por uma taxa de desemprego que se manteve em níveis altos, em cerca de 6%. A União Européia (UE), por outro lado, obteve resultados positivos nos mercados de trabalho de alguns países, apesar da baixa taxa de crescimento do PIB: 1,5%.
O informe elaborado pela OIT ressalta que as economias industrializadas provavelmente terão decréscimo em suas taxas de desemprego se o crescimento do PIB americano impulsionar a criação de empregos e se os postos de trabalho continuarem surgindo na Europa.
Economias periféricas são as mais afetadas
A América Latina e o Caribe foram os mais afetados pela recessão econômica mundial de 2001 em termos de crescimento da produção e eliminação de postos de trabalho, mas registraram crescimento em 2003: 1,6%, após um decréscimo de –0,1% em 2002. Até o momento, a recuperação do emprego tem sido muito lenta. A taxa de desemprego regional caiu de 9% para 8%, redução que pode ser atribuída à recuperação argentina e à diminuição do crescimento da mão-de-obra.
Após anos de aumento do desemprego devido a instabilidades econômicas, as economias em transição finalmente puderam reverter esta tendência e fazer o desemprego diminuir em 2003. Espera-se que a situação do mercado de trabalho melhore devido aos investimentos estrangeiros que conseguiram atrair. A forte demanda interna, o crescimento do comércio e a solução dos problemas associados ao processo de transição são bons sinais. No entanto, a AIDS e outras doenças representam uma ameaça crescente para o desenvolvimento de algumas economias da região.