Tratamento psiquiátrico fora do manicômio dá melhor resultado

02/01/2004 - 12h54

Brasília, 2/1/2004 (Agência Brasil - ABr) - No sistema de assistência à saúde mental, a hospitalização prolongada em manicômios vem sendo substituída por tratamentos que garantem uma maior inserção social do paciente. Mesmo assim, nos casos mais graves, a internação psiquiátrica pode ainda ser necessária. Porém, a tendência é que ela não seja mais feita em manicômios, e sim nas unidades psiquiátricas de hospitais comuns (ou gerais), onde os pacientes com algum problema mental passariam apenas alguns dias.

Na última década, o número de leitos diminuiu 30% nos manicômios e aumentou 75% nas unidades psiquiátricas de hospitais comuns. Contudo, esses leitos nos hospitais comuns representam apenas 3% do total de leitos psiquiátricos do país. Esses números são apresentados por Paulo Dalgalarrondo e sua equipe, da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, em artigo publicado na Revista de Saúde Pública. "Na região metropolitana de Campinas - SP -, entretanto, o peso relativo das unidades de internação psiquiátrica em hospital geral é sensivelmente maior, respondendo por 25% a 30% das internações psiquiátricas", diz o professor.

A equipe analisou cerca de 1500 pacientes que, em algum período entre 1986 e 1997, estiveram internados na unidade de psiquiatria de um hospital comum de Campinas. "Em relação ao resultado da internação, destaca-se o fato de mais de 80% dos pacientes terem apresentado significativa melhora dos sintomas, sendo que, destes, dois terços em prazo inferior a três semanas, o que comprova a efetividade do tratamento instituído na unidade", afirmam os pesquisadores.

Contudo, houve pacientes que se beneficiaram pouco desse tratamento. Eles precisaram de um tempo maior de internação e, mesmo na hora da alta hospitalar, tiveram seu comportamento e estado mental avaliados como ruins. Em geral, esses pacientes tinham idade igual ou superior a 60 anos, apresentavam transtornos psicorgânicos (problemas psiquiátricos decorrentes de alterações cerebrais) e não exerciam funções sociais relacionadas a trabalho, estudo ou tarefas domésticas.

"Possivelmente, esses pacientes necessitam (e talvez se beneficiem mais) de intervenções voltadas para a reabilitação psicossocial, como o treinamento em habilidades sociais e apoio para seus cuidadores", sugere Dalgalarrondo. "Os dados apresentados reforçam a necessidade de mais estudos planejados para analisar o desempenho das internações psiquiátricas em hospitais gerais", alerta. (Agência Notisa)