Nova Geografia da Fome chega às livrarias ainda nesta semana

15/12/2003 - 15h39

São Paulo, 15/12/2003 (Agência Brasil - ABr) – Resultado de quatro meses de trabalho, o livro "Nova Geografia da Fome" traz relatos surpreendentes e capazes de despertar a solidariedade na sociedade civil, principalmente, entre os moradores das regiões mais desenvolvidas.

Nas páginas escritas pelo jornalista Xico Sá e ilustradas pelo fotógrafo Ubirajara Dettmar, o leitor vai encontrar não apenas a realidade de um povo excluído das conquistas de 500 anos de descobrimento do Brasil. Os relatos funcionam como espelhos de alma e neles já é possível identificar mudanças a partir da distribuição de alimentos, de água, de meios de produção , proporcionando condições de vida mais dignas. Enfim, do começo do resgate da auto-estima em locais pobres do semi-árido nordestino e extremo norte de Minas Gerais.

Com tiragem de oito mil exemplares, a publicação de 127 páginas, com encarte em inglês, deve chegar às livrarias ainda nesta semana. Toda a renda obtida com a venda será revertida às ações do Programa Fome Zero. O lançamento oficial foi hoje, durante café da manhã, oferecido pela ONG Apoio Fome Zero a empresários parceiros e apoiadores do Programa Fome Zero. O ministro de Segurança Alimentar e combate à Fome, José Graziano, estava presente.

Antes que os críticos tentem classificar a ação do programa governamental de "paternalista", Xico Sá disse que o quadro que encontrou na região de Guaribas, no Piauí - local escolhido como laboratório para o Programa Fome Zero - foi de intensa mobilização comunitária. Ele lamentou a ausência da grande imprensa no trabalho de campo, o que tiraria essa população da "invisibilidade". Xico lembrou que existem hoje cerca de 6 milhões de pessoas vivendo sem documento.

Nas visitas que fez a mais de 40 municípios em dez estados - nove no Nordeste e um em Minas Gerais, incluindo os Vales do Jequitinhonha e Mucuri - uma das coisas que mais chamou a atenção do jornalista foi a força das mulheres, muitas vivendo sozinhas porque os seus maridos saem para ganhar a vida em outras cidades.

"Por isso mesmo, as ‘viúvas da seca’ demonstravam liderança", revela Xico Sá, atribuindo tal iniciativa ao fato de que "são elas a segurar o tranco na hora em que a criança agarra na barra da saia chorando porque não há o que comer. Mesmo quando o homem está em casa, a mulher é a primeira a se descabelar à procura de um meio para botar na mesa o pão de cada dia", diz o jornalista.

Entre as histórias está a rotina das pessoas que tinham de caminhar até seis quilômetros para encontrar água potável e, agora, depois da construção de cisternas, começam a ter o fornecimento de água tratada. O livro registra também o início das relações comerciais, fato que o autor considera "chocante" por ser tão tardio, apenas no Século XXI.