Raquel Ribeiro e Iolando Lourenço
Repórteres da Agência Brasil
Brasília - A 10 dias da reunião do Diretório Nacional do PT, convocada para decidir sobre a expulsão dos chamados "radicais", o deputado Chico Alencar (RJ) e o senador Eduardo Suplicy (SP) iniciaram um movimento no Congresso Nacional tentando sensibilizar a direção do partido para evitar as baixas.
O documento que será enviado ao presidente nacional do partido, José Genoíno, argumenta que mesmo votos em projetos de contencioso polêmico não comportam soluções finais no partido e que, portanto, os radicais não estariam "diante de nenhuma infração de ordem ética, lesiva ao interesse público" que justifique o desligamento sumário dos quatro parlamentares. "Gestos de grandeza elevam quem os pratica. O momento é de repactuação, não de expulsões.", diz o manifesto.
Nos dias 13 e 14 próximos, o Diretório Nacional do PT decide em São Paulo se expulsa a senadora Heloísa Helena (AL) e os deputados João Fontes (SE), Babá (PA) e Luciana Genro (RS). O processo de expulsão foi aberto em meados do primeiro semestre por causa das sucessivas declarações e ataques dos parlamentares ao governo Lula e à reforma da Previdência. Os três deputados votaram contra a reforma nos dois turnos do plenário da Câmara. Na semana passada, Heloísa confirmou seu voto contra no primeiro turno e já avisou que não há possibilidade de mudá-lo no segundo turno.
Suplicy está em viagem oficial à África, mas, tão logo retorne, vai colher assinaturas de senadores petistas com o objetivo de sensibilizar os 81 membros do Diretório Nacional a não adotarem a punição máxima. Chico Alencar colhe as assinaturas na Câmara. Até o início da tarde de hoje, mais de 30 deputados petistas – a bancada tem 93 deputados - já haviam assinado o manifesto. Segundo Alencar, o senador Suplicy garante que tem pelo menos seis assinaturas da bancada de 14 senadores do PT.
O movimento em defesa dos radicais ultrapassou as fronteiras nacionais. Ontem, intelectuais ingleses e norte-americanos divulgaram um manifesto na revista Socialist Resistance de Londres na qual criticam a iniciativa do PT de expulsar os radicais. No texto, os intelectuais – entre eles o filólogo e crítico do governo norte-americano Noam Chomsky – classificaram de "muito grave" a decisão do núcleo do partido de "expulsar aqueles que continuam a defender suas políticas tradicionais".
A senadora Heloísa Helena disse que que ficou sensibilizada com a movimento, porque ele reúne nomes de esquerda do Brasil e do mundo, que, no fundo, defendem as mesmas coisas. "Fico agradecida pelo carinho e solidariedade. São militantes de esquerda que me emocionam", afirmou a senadora, que não quis falar sobre possíveis resultados da reunião. Heloísa Helena mantém-se esperança de não ser expulsa, mas reconhece que a situação é delicada. "Claro que preferia não ter como presente de Natal a expulsão", disse. A Agência Brasil tentou entrar em contato com os três deputados, mas não conseguiu retorno.
A decisão sobre a expulsão dos radicais vem se arrastando há meses. A primeira reunião do diretório estava marcada para 11 de setembro, mas, como a reforma da Previdência ainda não tinha sido votada no Senado, o diretório decidiu esperar pela confirmação do voto de Heloísa. A nova reunião está marcada para o dia 13 deste mês. A data é mesma em foi editado, em 1968, o Ato Institucional nº 5. Heloísa Helena brinca com as duas datas. "No 11 de setembro, derrubaram as torres gêmeas em Nova Iorque. No dia 13, foi o AI-5. As datas são tristes", disse ela.