Brasília, 4/12/2003 (Agência Brasil - ABr) - "Juros altos são coisa do passado. Agora estamos na rota do crescimento". Assim se manifestou hoje o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, depois de audiência com o senador Aloízio Mercadante (PT-SP), líder do governo no Senado. Com isso, Meirelles fez uma sinalização forte ao mercado de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central pretende manter a trajetória de redução gradativa da taxa básica de juros (Selic), que está em 17,5% ao ano.
Ele admite que os juros ainda podem cair mais, mesmo o Copom tendo cortado nove pontos percentuais na taxa Selic de junho para cá. O que está mais alto, e se constitui em gargalo para alguns setores da atividade produtiva, segundo ele, é o "spread" bancário (diferença entre os juros pagos na captação de recursos no mercado e os custos cobrados na concessão de empréstimos). Por isso, Meirelles acha que a Lei de Falências, em discussão no Senado, "trará ajuda fundamental para reduzir o 'spread', porque dará mais segurança às operações bancárias com pessoas jurídicas".
Meirelles e Mercadante conversaram por mais de uma hora, e passaram a limpo os resultados da política monetária e fiscal que o governo Lula adotou e que "já começa a dar bons frutos", de acordo com o senador paulista. Ele disse que "todos os indicadores mais importantes da economia são mais favoráveis hoje que no início do governo, a começar pelos juros que vêm caindo constantemente, de forma sustentada". Citou também a retomada da atividade em alguns setores da economia e a redução do risco-país, que demonstra a confiança dos agentes externos.
Os dois deram entrevista conjunta à imprensa, depois da audiência. Meirelles e Mercadante realçaram a importância de uma parceria estratégica da autoridade monetária com o Legislativo, com vistas a "consolidar todos os fatores práticos, de modo a que tenhamos um ritmo de crescimento mais acentuado", segundo o senador. Conselheiro econômico do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Mercadante destacou o fato de a autoridade monetária ter dado prioridade também à redução da vulnerabilidade externa.
Satisfeito com a conversa sobre política macroeconômica, que vinha sendo adiada constantemente por questões de agenda, o presidente do BC salientou que o diálogo com o Congresso é de suma importância na busca do aperfeiçoamento de ajustes fiscais, para dar mais eficácia às propostas em discussão. Afinal, "o governo está tomando todas as medidas para garantir uma caminhada longa de estabilidade, com retomada do crescimento ainda mais acentuado", acrescentou.
"O mais difícil já passou", segundo Meirelles, e "as perspectivas de crescimento hoje dão mais confiança, interna e externa, porque a retomada do desenvolvimento, com investimento em infra-estrutura, está baseada na responsabilidade fiscal, com equilíbrio das contas públicas, e na manutenção da estabilidade econômica". Ele reconheceu a existência, ainda, de "alguns gargalos que impedem a expansão sustentada da capacidade produtiva", mas ressaltou que a redução da taxa de juros de longo prazo, que caiu pela metade nos últimos doze meses, cria panorama mais favorável à recuperação do investimento necessário para impulsionar o ritmo da atividade econômica.
Stênio Ribeiro