Brasília, 4/12/2003 (Agência Brasil - ABr) - O Brasil deve tornar-se ainda mais receptivo ao mundo globalizado, fechando acordos com grandes blocos econômicos como a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e a União Européia (UE). A sugestão foi feita pelo chefe da Delegação da Comissão Européia, no Brasil, embaixador Alberto Navarro. Ele participou de audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados.
Ao defender a maior inclusão do país na globalização, o representante europeu referiu-se ao comentário do deputado José Carlos Hauly (PSDB/PR), segundo o qual o Brasil está em dúvida e com medo de aderir à Alca ou à UE.
O embaixador citou como exemplo a Espanha, sua terra natal, assegurando que o país, que integrou-se à UE há dezoito anos, nunca contou com tanto crescimento e prosperidade. Ele observou que os espanhóis ficaram não apenas inseguros, mas em pânico antes de fechar o acordo, já que estavam saindo de uma ditadura e em fase de crescimento.
Navarro observou também que o México, que tem a metade da população brasileira, possui um comércio externo três vezes superior ao brasileiro. Na sua opinião, a boa performance dos mexicanos reflete os resultados do acordo de livre comércio com os Estados Unidos. "O Brasil não tem um acordo com os Estados Unidos, responsável pela metade do comércio mundial, e nem com a UE", admirou-se.
Para o representante europeu, o Brasil não deve temer buscar acordos com os grandes blocos econômicos e recomendou que a oportunidade seja aproveitada para incrementar o turismo, segundo ele, o maior potencial de serviço no mundo e do país. Acrescentou que o futuro do Brasil é "muito grande" nessa área, já que atualmente recebe a visita de apenas 4,5 milhões de turistas estrangeiros por ano.
O embaixador reiterou que o país só tem a ganhar com o crescimento do turismo, que é a maior "indústria", responsável por 10% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Lembrou que, além de importância econômica, o turismo tem grande responsabilidade social, com geração de empregos e melhoria de vida da população.
Mesmo residindo há pouco tempo no Brasil, Navarro considera falsa a imagem de um país violento, passada para turistas estrangeiros, muitas vezes, na sua opinião, destacada pelos próprios brasileiros como ocorre nos programas e noticiários de jornais e televisão. Segundo ele, é fundamental que seja desfeita essa má impressão do país para que se aumente o ingresso de turistas.
Questionado pelo deputado Leonardo Matos (PV/MG) sobre a condução da questão dos produtos geneticamente modificados (transgênicos) na UE, o embaixador afirmou que, como no Brasil, o assunto é polêmico na Europa. De acordo com ele, a população está dividida entre os interesses dos consumidores e dos produtores. Mas assegurou que todos concordam que o consumidor tem direito à informação. Nesse sentido, disse que está sendo analisada uma legislação que obriga a afixação de etiqueta no produto quando em sua composição houver mais de 1% de transgênico.
Na ocasião, Navarro lembrou que a UE "é de longe" a primeira parceira comercial e a primeira investidora estrangeira no Brasil e no Mercosul. Destacou que a UE absorve cerca de 27% das exportações brasileiras e é a fonte de mais de 50% de todos os investimentos diretos estrangeiros no país.
Sobre as relações da UE com o Mercosul, o embaixador enfatizou que os atuais fluxos de comércio e investimento somam 90 bilhões de euros, com saldo comercial de 5,8 milhões de euros, em 2002, favoráveis ao Mercosul. Acrescentou que, no mesmo ano, o intercâmbio comercial entre os dois blocos representou 43,4% das transações comerciais entre a UE e a América Latina. Navarro ressaltou que "o Brasil e o Mercosul não têm uma relação similar com nenhum outro parceiro".