Primeiro secretário do Meio Ambiente diz que não esperava viver para ver evento como a conferência

30/11/2003 - 11h36

Luciana Vasconcelos
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Termina hoje em Brasília a Conferência Nacional do Meio Ambiente, que está sendo realizada desde sexta-feira (29). A conferência reúne 912 delegados eleitos em todo o país. A construção do evento contou com a participação direta de mais de 70 mil pessoas, em encontros preparatórios regionais, municipais e setoriais. Na tarde deste domingo deve ser votado documento-base para a gestão ambiental no Brasil.

Os principais objetivos da conferência são construir diretrizes para a consolidação do Sistema Nacional do Meio Ambiente como um instrumento para a construção da sustentabilidade ambiental, diagnosticar e mapear a situação sócio-ambiental, além de promover um processo de mobilização e educação ambiental.

Ao falar de política ambiental, não podemos deixar de citar Paulo Nogueira Neto, 81 anos. Ele foi o primeiro secretário Especial do Meio Ambiente do Brasil, ocupando o cargo de 1974 até meados de 1986. Nogueira Neto foi ainda um dos fundadores do Conselho Nacional do Meio Ambiente, o Conama. Ele conta que começou seus trabalhos em três salas, com mais cinco pessoas. A sua maior dificuldade, na época, era a falta de legislação. Segundo ele, hoje o problema não é mais a falta de leis ou regulamentos, mas de recursos para que essas regras sejam implementadas.

Paulo Nogueira Neto é professor da Universidade de São Paulo e participa de diversas organizações de defesa do meio ambiente no Brasil, como SOS Mata Atlântica e WWF Brasil. Ele também é membro da comissão de honra da Conferência Nacional do Meio Ambiente. "A conferência representa uma tomada de consciência do povo brasileiro", acredita ele. Nogueira lembra quando os ambientalistas de cada estado cabiam dentro de uma Kombi e fica emocionado quando vê tanta gente reunida em um local discutindo o tema. "Deus me deu essa possibilidade, que não esperava ter, de assistir a uma conferência como esta", diz.

O professor considera que o maior problema ambiental no Brasil hoje é a falta de saneamento básico. "Nossos rios estão sendo poluídos pelos esgotos", afirma. Ele acredita ainda que as políticas de meio ambiente devam vir acompanhas de políticas sociais. "É preciso primeiro erradicar a miséria. Enquanto não erradicar, não há como ter meio ambiente de qualidade", diz.

Nogueira Neto reclama também uma maior atenção às florestas de araucária no Sul do país. "Hoje existem três ou quatro florestas, com cerca de quatro mil hectares. E era metade de Santa Cantarina", lembra. "A planta não está ameaçada, mas o ecossistema, as plantas e animais que convivem com a araucária", ressalta.

É preciso ainda criar um outro órgão para cuidar das unidades de conservação brasileiras, defende o professor. Segundo ele, o Ibama deve tratar do controle do desmatamento, da exploração e do manejo florestal e deixar a preservação das unidades de conservação para outro órgão. Nogueira Neto é um apaixonado pelo meio ambiente e diz que não se cansa de trabalhar pela causa. "Meio ambiente é o mundo. Se um dia se sentir monótono é só lembrar de um problema ambiental", conclui.

(Luciana Vasconcelos)