Encontro discute os reais benefícios do auto-exame da mama

14/11/2003 - 12h08

Brasília, 14/11/2003 (Agência Brasil - ABr) - Estudiosos do meio científico começam a questionar os reais benefícios do auto-exame das mamas, um dos procedimentos mais recomendados pelas autoridades de saúde para a detecção do câncer de mama. Alguns chegam até mesmo a discutir os possíveis malefícios trazidos pelo fato de a mulher achar que se examinou e assim deixar de procurar um médico. A utilização do auto-exame como procedimento para a detecção da doença é um dos pontos que estão sendo avaliados na oficina de trabalho "Consenso da Mama", que termina hoje em Brasília.

Atualmente, existem três formas de detecção precoce da doença: o auto-exame das mamas, o exame clínico das mamas e a mamografia de rastreamento, realizada em pessoas que não apresentam sintomas. A posição do Instituto Nacional do Câncer (Inca) em relação ao auto-exame é de que ele deve ser recomendado como uma prática complementar ao exame clínico das mamas, feito por profissionais treinados, como médicos ou enfermeiros qualificados. Já a mamografia é recomendada para todas as mulheres na faixa de 40 a 69 anos de idade e deve ser feita anualmente ou bienalmente.

No Sistema Único de Saúde (SUS) há 1.504 mamógrafos e 135 pistolas para punção por agulha grossa da mama, método que possibilita a realização de biópsia em ambulatório. São 166 hospitais especializados para o tratamento de câncer, os chamados Centros de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon) localizados em todo o Brasil.

De 1979 a 2000, houve um aumento de 80% nas taxas de mortalidade pelo câncer de mama. A doença representa a primeira causa de morte por câncer em mulheres no Brasil. Segundo estimativas do Inca, a doença será responsável pela morte de mais de nove mil mulheres no país em 2003.

Do ponto de vista da saúde pública, pouco pode ser feito em relação aos maiores fatores de risco conhecidos. Os principais são ser do sexo feminino, ter mãe ou irmã com câncer de mama, primeira gravidez em idade tardia e envelhecimento. A obesidade, o hábito de fumar, o consumo exagerado de bebidas alcoólicas e a exposição a pesticidas também podem ser responsáveis pelo aparecimento da doença.

Na tarde de hoje, o ministério da Saúde divulgará um documento técnico de consenso sobre normas e procedimentos de prevenção, diagnóstico precoce, tratamento e medidas de reabilitação da doença que passarão a ser adotados no país. "Seria um desafio para nós todos se pudéssemos tirar desse encontro não só um documento, que vai ser um guia para elaborar diretrizes técnico-políticas, mas também alguns eixos estruturantes que possam ser levados para a 12ª Conferência Nacional de Saúde", afirmou o diretor do Instituto Nacional do Câncer (Inca), José Gomes Temporão.

O avanço das técnicas de detecção, a descoberta precoce da doença e o tratamento adequado podem evitar a retirada precoce da mama e mudar para melhor o quadro da doença no Brasil.