Brasília, 6/11/2003 (Agência Brasil - ABr) - As meninas têm mais chances de se contaminar com o vírus da Aids; aproximadamente 100 mil delas participaram de conflitos nos anos 90, nos quais ficaram suscetíveis à violência e à exploração sexual. Os dados constam do relatório Monitoramento Global da Educação para Todos 2003/2004, divulgado hoje pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Para os organizadores da pesquisa, as meninas estão mais expostas a situações de vulnerabilidade.
Na educação, a disparidade de gênero ainda é um problema a ser superado: o número de meninos nas escolas é superior. Outro fator que agrava o problema é que as escolas nem sempre estão situadas em locais seguros. Por isso, os pais não permitem que as filhas estudem, para não sofrer qualquer tipo de agressão ou abuso. O preconceito e o grau de pobreza da família também afastam as meninas dos estudos. Com a falta de dinheiro, os pais preferem que a filha fique em casa cuidando dos afazeres domésticos.
Acordo firmado por mais de 160 países durante o Fórum Mundial de Educação de Dacar, em 2000, prevê a eliminação das diferenças de gênero nas matrículas no primário e no ensino fundamental até 2005. Mesmo assim, os dados ainda levam ao pessimismo sobre o alcance dessa meta. Segundo o relatório, que acompanha 128 países, apenas 52 conseguirão eliminar o problema.
O Brasil já atingiu a paridade em 2000. O número de meninos e meninas alfabetizados é semelhante. Mas o país ainda tem alguns problemas a enfrentar: no ensino fundamental, as meninas estão em desvantagem. Em compensação, no ensino médio, superam os meninos, porque nessa fase eles param de estudar para trabalhar.
A paridade alcançada pelo Brasil, segundo o representante da Unesco, Jorge Werthein, é exemplo para o mundo. "Havia uma decisão de caráter político, de igualdade de gênero e uma compreensão de que a escola é um lugar fundamental para alcançar a democratização em um país", explicou Werthein, acrescentando que embora o relatório mostre que muitos países estão longe de acabar com as disparidades, esse quadro pode mudar desde que haja políticas específicas e que os países dêem mais importância ao problema.
Para a secretária de Ensino Fundamental do Ministério da Educação, Maria José Ferez, o sucesso do Brasil com a paridade é resultado de políticas públicas, dos movimentos sociais, além da nova cultura do país de combater o preconceito e a discriminação. "Quanto ao mercado de trabalho, nós temos que continuar essa luta e fazer com que essa cultura de igualdade também seja aplicada nesse campo", advertiu.
A heterogeneidade de gênero se concentra mais nos países situados nas regiões sul e oeste da Ásia, África Sub-Saariana e Estados Árabes e a maior parte das desigualdades, em 2015, estará no ensino médio.