Destruição de pista clandestina na Amazônia tranqüiliza os indígenas

06/11/2003 - 11h02

Manaus, 6/10/2003 (Agência Brasil - ABr) - As 57 comunidades indígenas da região conhecida como "Cabeça do Cachorro", no norte do Brasil, envolvendo quase 3.300 índios, estão mais tranqüilas com a destruição da pista clandestina, usada por narcotraficantes e por guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) na Serra do Caparro, a três quilômetros da fronteira do Brasil com a Colômbia, no município de São Gabriel da Cachoeira, a 850 quilômetros de Manaus.

A pista foi destruída ontem (5) numa operação denominada "Princesa dos Pampas", coordenada pela a Polícia Federal, com o apoio da Força Aérea Brasileira (FAB). Dez aeronaves participaram da operação, incluindo quatro AMX e quatro F-5, além de helicópteros e um KC-130 para reabastecimento dos aviões na região.

A comunidade mais próxima do local da pista destruída é a de Tunuí, dos índios Baniwas, a 250 quilômetros de São Gabriel da Cachoeira. Descoberta pela Fundação Nacional do Índio (Funai) há quase 50 anos, a comunidade fica às margens do rio Içana e lá vivem 232 indígenas. A reserva indígena dos Baniwas tem 450 quilômetros quadrados. Na região conhecida como "Cabeça do Cachorro", as reservas indígenas atingem uma área de 8.000 quilômetros quadrados.

A pista de Caparro foi construída pela Companhia de Mineração Paranapanema. A empresa explorou até o final de 1987 o garimpo do "Peoa", que depois ficou abandonado. Os últimos garimpeiros que foram para lá acabaram extorquidos por membros das Farc. Em julho de 2002, a pista foi destruída pela Polícia Federal, mas em junho deste ano índios da região denunciaram que "parte da pista estava sendo reconstruída por guerrilheiros das Farc", segundo informou o Coordenador Especial de Operações de Fronteira da Polícia Federal, delegado Mauro Spósito.

O índio Edmar Delgado, da etnia Baré, localizada às margens do Rio Negro (AM), também na área da "Cabeça do Cachorro", trabalhou por seis meses no garimpo do "Peoa" e por várias vezes presenciou a atuação das Farc na pista de Caparro. Como conhece bem a região, passou a colaborar com a Polícia Federal na operação "Princesa dos Pampas". Edmar disse que a destruição da pista foi fundamental para evitar o tráfico, porque agora "eles (narcotraficantes) vão ficar com medo e vão sentir que o negócio não é brincadeira". E acrescentou que confia no trabalho da Polícia Federal e das Forças Armadas brasileiras: "A fronteira não está liberada como eles pensam", afirmou. Os guerrilheiros das Farc utilizaram a pista de Caparro como ponto de apoio no transporte de cocaína para o Suriname, Estados Unidos e Europa.

O chefe do Posto da Funai na comunidade de Tunuí, Edson Caldas Lopes, contou que convive há cinco anos com os índios Baniwas: fica por três meses na aldeia e tira 15 dias de folga em São Gabriel da Cachoeira. "Nosso objetivo aqui é vigiar e fiscalizar as terras indígenas e as comunidades. A preocupação é com a invasão de garimpeiros e de outras pessoas estranhas".

Caldas, como é chamado pelos índios, informou que uma das maiores preocupações da Funai é quanto ao envolvimento de índios com as Farc. "Já houve até captura de indígenas para servir a eles na guerrilha", disse. Segundo o delegado Mauro Spósito, da Polícia Federal, "não existe mais nenhuma pista clandestina na área de fronteira na região amazônica".

O agente Geraldo de Castro Neto, da Polícia Federal, é mineiro de Belo Horizonte e está há dois anos na região amazônica. Ele tem como base a Superintendência de Manaus, mas fica de 30 a 40 dias na selva trabalhando em operações na fronteira do Brasil com a Colômbia, o Peru ou a Venezuela. E admite que "isso aqui é a porta de entrada de drogas para o Brasil e outros países".

O combate ao narcotráfico na região conta ainda com o apoio tecnológico do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam).