MEC discute política para ensino médio de povos indígenas

20/10/2003 - 11h53

Brasília, 20/10/2003 (Agência Brasil - ABr) - Depois de muitas reivindicações, a população indígena já pode se considerar vitoriosa. O Ministério da Educação está iniciando uma ampla discussão a fim formular política para o ensino médio direcionado aos povos indígenas que respeite suas conquistas, costumes e cultura.

Lideranças, organizações e professores indígenas de todo o país, representantes de secretarias e conselhos estaduais de Educação, da Funai e do Ministério Público, ente outros, reúnem-se até quarta-feira (22) para discutir o assunto, durante o 1° Seminário de Políticas de Ensino Médio para os Povos Indígenas.

De acordo com o secretário de Educação Média e Tecnológica do Ministério da Educação, Antônio Ibañez Ruiz, o país tem apenas o ensino fundamental direcionado aos índios, e agora vai formular políticas específicas para os ensinos médio e superior. "Este é um fato histórico por dois motivos: os índios estarem indo para o ensino médio e estarmos ouvindo as reivindicações da população indígena", destacou o secretário, acrescentando que o governo vai elaborar essa política junto com os índios.

Ibañez lembrou que quando o aluno conclui o ensino fundamental, vai para a cidade cursar o ensino médio: "O importante é que a gente também coloque o ensino médio nas aldeias para que eles não precisem se afastar do próprio meio. Muitos não voltam e ficam aculturados. É preciso que eles se mantenham na própria aldeia". O secretário disse acreditar que até o ano que vem já esteja em prática o ensino médio indígena.

Para Magno Amaldo, 32 anos, da aldeia Pakuera (MT), embora exista o ensino fundamental dirigido aos índios, muitos municípios desconhecem a lei. "É importante para nós termos um ensino que respeite a nossa cultura e não é de hoje que estamos tentando essa mudança", afirmou, após explicar que na aldeia onde mora os índios já contam com os ensinos fundamental e médio. "Mas esta não é a realidade na maioria das aldeias do país. Muitas ainda brigam pelo ensino fundamental", acrescentou

Amaldo lembrou que quando os índios estão na fase de afirmação de identidade, de valores e cultura, abandonam as aldeias para estudar nas cidades e sofrem com o preconceito. "As pessoas desconhecem a realidade e não estão preocupados se é índio, branco ou negro, querem o aluno que acompanhe o conteúdo. A escola, para nós, não vai dar uma capacidade acadêmica. A nossa preocupação é na formação do cidadão, do índio".

A aldeia Pakuera, segundo Amaldo, tem a escola Uluku, com professores e coordenador pedagógico índios. "Todos os professores estão fazendo o terceiro grau na Universidade Federal do Mato Grosso, que é voltado para os índios. Já temos dois formados que estão concluindo uma especialização em educação escolar indígena".

Sabino Krao, 43 anos, da aldeia Nova (TO), disse que é importante trabalhar para que os índios mais jovens não percam a própria cultura. "Lá na minha tribo está em conclusão agora o ensino fundamental". Krao dá aulas da língua materna aos alunos da terceira série.

Ao final do encontro, será elaborado um documento com sugestões sobre a concepção, o formato e as estratégias para o ensino médio indígena. O documento será encaminhado ao Ministério da Educação e vai subsidiar propostas de programas como o Diversidade na Universidade.