Brasília, 7/10/2003 (Agência Brasil - ABr) - Quase 70% das vítimas de abuso sexual têm entre 0 e 11 anos e 51,1% dos molestadores são homens entre 22 e 40 anos. Dados como esses fazem parte da publicação "Abuso Sexual Contra Crianças e Adolescentes – Os Descaminhos da Denúncia", lançado hoje, no auditório do Ministério da Justiça, em Brasília.

O livro, organizado pela professora e pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB) Eva Faleiros, é resultado do estudo de quarenta casos de abuso sexual contra crianças em cinco capitais do país: Goiânia, Vitória, Belém, Recife e Porto Alegre. A pesquisa durou dois anos e foi feita pela internet. "O livro não permite generalizações, mas indica tendências da violência sexual no país", explica Eva Faleiros. As estatísticas servem como bússola para o diagnóstico da situação", afirmou a promotora de Justiça Patrícia Calmon, coordenadora estadual da Associação Brasileira de Magistrados e Promotores da Infância e Juventude (ABMP)

Os números assustam: 94% dos casos de abuso sexual são praticados por familiares ou conhecidos da vítima. Um dado, em particular, chamou a atenção da pesquisadora: 12,5% dos casos eram de abuso com mais de um abusador. "Tínhamos 40 casos e 47 abusadores. Ou seja, havia casos de abusos múltiplos contra as crianças". Casos como o do tio e do avô de uma criança de dois anos que são acusados de tentativa de estupro em Goiânia, ou do menino de Porto Alegre que era abusado por dois vizinhos de 23 e 29 anos.

As ocorrências só puderam ser analisadas a partir das denúncias feitas em delegacias e órgãos de defesa das crianças e adolescentes. Eva explicou que "muitas vezes, a vítima demora até dez anos para denunciar. A denúncia é o fio da meada. É através dela que podemos identificar os casos e fazer campanhas de combate a esse tipo de violência". E conclui: "A criança deve ser preparada, desde o pré-natal da mãe, para não se tornar um abusador ou uma vítima".