Brasília, 26/9/2003 (Agência Brasil - ABr) - Os oceanos estão pouco a pouco se tornando mais ácidos e isso pode afetar seriamente a vida marinha, alertam cientistas norte-americanos.
Pesquisadores da Califórnia, que realizaram um estudo sobre a questão, dizem que a mudança acontece em resposta ao aumento do nível de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera.
Eles revelaram que a diminuição no pH (coeficiente de acidez) da água não é grande no momento, mas poderia se tornar uma ameaça à fauna dos mares e oceanos se continuar. Ainda segundo os cientistas, o uso crescente de combustíveis fósseis significa que mais CO2 é lançado ao ar e grande parte dele acabará sendo absorvido pela água. Uma vez na água, ele passa por uma reação química, que leva à formação de ácido carbônico (H2 CO3).
Os autores do estudo, Ken Caldeira e Michael Wickett, do laboratório nacional Lawrence Livermore, acreditam que os oceanos já ficaram ligeiramente mais ácidos ao longo do último século. Eles tentaram prever o que acontecerá combinando o conhecimento que temos sobre a história dos oceanos com modelos computadorizados das mudanças climáticas.
"O nível de acidez vai ficar mais extremo no futuro se continuarmos lançando CO2 na atmosfera", disse Caldeira. "E nós prevemos níveis de acidez futura que poderão superar qualquer coisa que aconteceu nos últimos milhões de anos, exceto, talvez, após catástrofes raras, como impactos provocados por asteróides", acrescentou.
Se as emissões de dióxido de carbono continuarem constantes, o pH dos oceanos pode ser reduzido em 0.77 unidades, os autores advertem. Entretanto, não se sabe ao certo que implicação isso teria para a vida marinha. A maioria dos organismos vive perto da superfície, onde, os pesquisadores acreditam, ocorrerá a maior mudança no pH. Mas seres que vivem nas profundezas do oceano podem ser mais sensíveis às mudanças no pH.
Recifes de corais e outros organismos cujos esqueletos ou conchas contêm carbonato de cálcio podem ser particularmente afetados, dizem os pesquisadores. Esses seres podem ter muito mais dificuldade em construir essas estruturas em água com pH mais baixo.
Nos últimos anos, algumas pessoas sugeriram que dióxido de carbono proveniente de usinas de energia fosse deliberadamente armazenado no fundo dos oceanos como forma de controlar o aquecimento da Terra. Mas Caldeira adverte que tal estratégia deveria ser repensada. "Agora, estamos entendendo que a absorção de CO2 pelos oceanos é uma faca de dois gumes."
O alerta foi divulgado em um artigo da revista científica Nature. (BBC Brasil)