São Paulo, 26/9/03 (Agência Brasil - ABr) - O Brasil só conseguirá combater a pobreza se o governo levar o computador e a internet a toda população. A opinião é do presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI), Sérgio Amadeu da Silveira, que participou do debate "Inclusão Digital - Possibilidades e Conflitos na Sociedade de Informação", realizado hoje no Instituto Itaú Cultural, em São Paulo. Segundo ele, as velhas tecnologias só permitem congelar a situação de miséria, "mantendo as pessoas vivas".
Silveira defendeu a inclusão digital como política pública e enfatizou a necessidade não só de distribuição de computadores, mas de investimentos na capacitação dos usuários. "Só conseguirei criar no interior do Piauí, por exemplo, uma renda mínima necessária ao desenvolvimento na cidade, se capacitarmos a população quanto às tecnologias de informação", disse.
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNDA), 12,36% da população têm computador e só 8,31% têm Internet. Esses índices, segundo especialistas presentes no evento, demonstram que além da exclusão social, muitos brasileiros sofrem agora a exclusão digital.
Para combater o problema e ampliar a presença dos computadores e da internet na vida dos brasileiros, o governo federal criou, este ano, a Câmara de Inclusão Digital, que reúne representantes de vários ministérios.
Mas nem todos concordam com a necessidade, no momento, de grandes investimentos na capacitação digital do país. Valdemar Setzer, professor titular do departamento de Ciências da Computação da USP é um dos críticos às prioridades adotadas no Brasil. "Estamos dando ênfase no lugar errado. É mais importante, por exemplo, a questão do convívio social, da saúde, da qualidade do ar, do que todas as informações que são trocadas ou armazenadas por aí. Existem outras grandes prioridades para gastarmos dinheiro", disse Setzer.
Jorge Werthein, representante da Unesco no Brasil, ressalta, no entanto, que o país não pode ficar para trás na chamada Sociedade de Informação (sociedade cuja economia depende cada vez mais das novas tecnologias e do conhecimento). "O capital mais importante que uma sociedade tem é o conhecimento. Por meio da socialização, da democratização do acesso à informação podemos construir, no Brasil, uma sociedade bem informada, na qual o conhecimento seja socializado, onde haja uma inclusão social importante pelo acesso à informação e ao conhecimento", disse Werthein.
Na sua opinião, tanto o governo de Fernando Henrique Cardoso como o de Luiz Inácio Lula da Silva têm percebido a importância da inclusão digital para o desenvolvimento, tanto que o Brasil terá uma participação de destaque na conferência da Unesco sobre a Sociedade de Informação, que começa, na próxima semana, em Paris.
"Em reconhecimento à postura atual do governo brasileiro, por intermédio do Ministério da Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral presidirá uma das mesas mais importantes, onde se discute as posturas dos países sobre a sociedade da informação. Brasília está com uma postura muito boa que coincide com as posturas hoje, ao nível internacional. O desafio é a inclusão do grande segmento da população brasileira que hoje está marginalizado", concluiu.
Beatriz Pasqualino