Murilo Ramos
Editor de Economia
Brasília – "A política econômica é a maior política social". O prêmio Nobel de Economia em 2001, Joseph Stiglitz, reproduz esse pensamento em todas as palestras que profere ao redor do mundo. Nessa terça-feira, no Brasil, não foi diferente. Em quase duas horas, uma platéia formada por economistas, especialistas em planejamento e estudantes acompanhou atentamente sua "aula".
Stiglitz afirmou que quando um país não destaca a criação de empregos como pedra fundamental da política econômica, a violência aumenta e a população sai prejudicada, em especial em países pobres. Mencionou que o rigor fiscal exagerado nos últimos anos da década de 90 e as privatizações aceleradas, receitas do "Consenso de Washington", repassadas aos países em desenvolvimento, provocaram a estagnação deles. Por isso, até hoje, ressaltou, têm enfrentado sérios problemas para sustentar a economia e proporcionar melhores condições de vida à população.
Disse que nenhum dos países latino-americanos pode incorrer no mesmo erro do início da década de 90, em que o ingresso de capitais de curto prazo gerou uma falsa expectativa de bem-estar e o dinheiro das privatizações se refletiu em uma "exuberância irracional". Avaliou que os países do sudeste asiático souberam enfrentar melhor o revolucionário quadro econômico do que os latinos. Isso porque os asiáticos fizeram investimentos em educação e tecnologia. Além disso, tiveram a nítida percepção de que os bancos de investimentos ou de fomento têm de ser estatais. "Os bancos privados não sabem emprestar. Não querem reverter o lucro em melhorias sociais. Os micro e pequenos empresários ficam desamparados quando não há políticas voltadas para eles. E esses agentes geram muitos empregos e reduzem a informalidade", salientou.
Destacou que a idéia de que o ingresso de capitais, que tanto tormenta a vida dos governos dos países pobres, é extremamente necessária para o desenvolvimento é incorreta. "Não há nenhuma prova de que a entrada de recursos é revertida, necessariamente, em desenvolvimento econômico. Nem mesmo a liberalização comercial excessiva". arrematou.
Ele criticou a preocupação exagerada dos países com a redução dos juros nomimais, como o Brasil. O que importa, na opinião dele, são os juros reais. Ou seja, a diferença do juros nominais e a inflação. "Não há motivos para se comemorar a queda de um ou dois pontos percentuais se o juro real está demasiadamente alto. Se o custo do dinheiro é elevado"
FMI
O prêmio Nobel criticou bastante o Fundo Monetário Internacional (FMI), em seu discurso. Afirmou que os Estados Unidos mantêm forte influência nas decisões do organismo multilateral e, às vezes, apresenta recomendações contrárias ao interesse e à necessidade dos países que assinam os acordos. Citou a Coréia do Sul, que mantinha siderúrgicas funcionando bem, mas que foram vendidas para atender recomendações do Fundo. "Foi um jeito de atender os interesses da forte indústria do aço norte-americana, que via nas siderúrgicas coreanas uma forte concorrência.
Stiglitz disse, ainda, que não sabe se o Brasil precisa de um novo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) – o atual vence em dezembro, mas se fizer necessita de outros termos, isto é, um acordo que garanta a criação de empregos. "A estabilidade por si só não basta. Quanto mais se empurra uma mola para baixo, imaginando que ela vai voltar à toda (crescimento) comete-se um engano. Na economia, quanto mais a mola é empurrada para baixo, mais fica presa", ao referir-se às recomendações de políticas "amargas" feitas pelo FMI.
Alca e OMC
O economista, que foi vice-presidente do Banco Mundial entre 1997 e 2000, aconselhou ainda o Brasil a prestar atenção aos interesse dos norte-americanos. Para ele, nas discussões da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), e na Organização Mundial do Comércio (OMC), não há vontade de se promover o comércio, como pregam, mas sim desejos que atendem à vontade do governo norte-americano.
Quem é Stiglitz
Venceu o Prêmio Nobel em 2001 por seus estudos de assimetria da informação nas decisões de investimentos (diferente de outros modelos, ele afirma que os investidores têm informações incompletas ou distorcidas e que isso é de relevância fundamental para os mercados financeiros), e foi um dos criadores de um novo ramo de estudos econômicos, a "Economia da Informação".
Stiglitz já foi vice-presidente do Banco Mundial, mas deixou a entidade por sua postura critica contra o Banco e contra o Fundo Monetário Internacional (FMI). Atualmente, é professor titular da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos. O professor foi um dos mais importantes economistas internacionais a afirmar que a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva não representava um risco para a estabilidade brasileira.
27/08/2003