Brasília, 27/8/2003 (Agência Brasil - ABr) - Uma líder camponesa, apaixonada pelo desenho desde a infância, tornou-se uma artista plástica famosa em todo o mundo. A história de Aparecida Azedo, contemporânea de Cândido Portinari, está no livro A Pintura como Conto de Fadas, escrita pelo historiador Ivan Alves Filho. A obra foi apresentada na Feira do Livro em Brasília.
O livro relata a história da vida de Aparecida e faz um estudo sobre suas pinturas. "O Ivan se baseou em várias entrevistas, além de fazer uma relação com as cores. Ele achou que a minha pintura tinha tudo a ver com a minha infância e até com a minha vida política. Ele soube fazer isso muito bem", conta.
Orgulhosa, ela considera essa experiência muito interessante. "O resultado saiu exatamente como queríamos". A sensação de ver o trabalho pronto, ela considera muito boa. "Às vezes, me belisco para ver se tudo isso que está acontecendo é verdadeiro. É tão difícil conseguir chegar a esse ponto, pois a gente batalha tanto", confessa.
Os momentos que podem ser destacados como grandes influências na pintura estão, em sua maioria, na adolescência. "Foi muito marcante, pois se passou na época da guerra. Eu tinha 13, 14 anos, e já participava politicamente", diz. A artista plástica participou, também, de movimentos de ajuda às famílias de acidentados da guerra. Ela conta que, naquela época, já colaborava com a Cruz Vermelha. "São momentos que não podemos esquecer", afirma.
Aparecida não foi a única a ser influenciada pela trajetória política do país. "Não só nas artes plásticas, mas em todo os setores culturais, foi um desastre. Apesar disso, o artista soube dar uma rasteira nisso tudo. Aprendemos a nos expressar de uma forma que as pessoas pudessem entender o que a gente queria dizer", aponta.
De acordo com ela, os quadros também sofriam censura. "Muitos artistas pintavam quadros falando sutilmente sobre a ditadura e outro falavam mais abertamente. E não podiam ser expostos por causa disso", revela.
A maior característica das obras de Aparecida são as cores. Os quadros são muito alegres, retratando a maior característica do povo brasileiro. As árvores são elementos sempre presentes em seu trabalho. "A junção de brasilidade, tanto na pintura quanto nas cores, é um recado da história, vivência e realidade do povo brasileiro", explica. Ela justifica seu gosto de retratar a natureza por uma simples razão: os mais importantes fatos históricos brasileiros aconteceram com a paisagem como pano de fundo.
A artista plástica, que está no Livro dos Recordes pelas dimensões de um de seus quadros, deixa um aviso: "Quando termina uma exposição e a gente já tem outra na cabeça, pode esperar que muita coisa interessante está por vir".
------------
